28 maio 2014
07 dezembro 2013
TUP apresenta...
JÁ GASTÁMOS AS PALAVRAS
de Victor Hugo Pontes
13 a 22 de Dezembro
De terça a sábado
22h
reservas@teatrouniversitariodoporto.org
917229829
29 outubro 2013
Inscrições abertas | CURSO DE INICIAÇÃO À INTERPRETAÇÃO DE 2014
Estão abertas, até 30 de Novembro, as inscrições para o Curso de Iniciação à Interpretação do TUP, um curso intensivo, gratuito e bianual que procura dar formação teatral a pessoas com ou sem experiência, estudantes universitários ou não.
Os candidatos devem enviar um email (com o assunto "INSCRIÇÃO") com o nome, idade, profissão e contactos para o email tupporto@gmail.com.
Depois de inscritos, os candidatos serão entrevistados em Dezembro, para que conheçam melhor o TUP e para que possamos explicar tudo sobre as audições, que serão em Janeiro.
Todos os candidatos serão informados por email dos resultados das audições na semana que se segue.
Em Fevereiro, o curso começa: de segunda a sexta-feira, das 21:00 às 00:00. A primeira fase divide-se em aulas de Voz, Movimento e Interpretação, e é seguida por uma fase de ensaios orientados por um encenador, que culmina com a apresentação de um espectáculo a estrear no final de Maio.
Para mais informações, envia-nos um email para tupporto@gmail.com
Contamos contigo!
25 agosto 2013
Pensamentos a partir de um hamburger in vitro
Recentemente, cientistas da Universidade de Maastricht mostraram ao mundo o primeiro hambúrguer totalmente produzido em laboratório. Por 250.000€ foi também o mais caro de sempre, mas já é apontado como alternativa futura à nossa galopante procura de carne, com argumentos de "sustentabilidade". Se os custos de produção baixarem talvez a excepção se faça regra e os animais abatidos a excepção. É que em vez de uma novidade, um hambúrguer feito em laboratório é apenas mais um passo numa longa tendência.
Desde a industrialização que se vem dando uma revolução quantitativa com discretas transformações qualitativas. Quando a carne era alimento só de uma minoria, a indústria de bens alimentares trouxe a quantidade para toda a gente à custa da correspondente transformação qualitativa. Quando fazer carne in vitro se tornar normal, talvez a criação de animais para abate se transforme num negócio de nicho e então, comer carne de verdade talvez volte a ser refeição só para alguns.
A produção industrial trouxe a generalização dos bens de consumo mas também a elitização das suas qualidades; a cultura, transformada em bem de consumo, não é excepção.
De um lado as grandes cadeias de distribuição, do outro o financiamento público do cinema e audiovisual em sérias dificuldades devido ao não pagamento da taxa anual pelas empresas operadoras (as mesmas das grandes salas de cinema). De um lado blockbusters cada vez mais massificados e padronizados, do outro um cinema cada vez mais inacessível.
Literatura
Nas livrarias, a frente renova-se continuamente na ocupação pela parafernália de séries e sagas, sequelas e prequelas que enfeitam as capas com autocolantes de "mais de x milhões já leram", "do autor dos bestsellers z e y". Há sempre também um canto onde estão, um tanto desorganizados, alguns livros bons de edições anteriores a preço de refugo; os mais recentes, muitas vezes, há que encomendá-los.
Música
A música dita "clássica" fez-se mais um género numa indústria de entretenimento de géneros formatados, compilação dos melhores adagios para ouvir enquanto lê (de preferência o último da autora do bestseller). Enquanto isso, a música contemporânea fez-se cada vez mais compreensível apenas para um grupo com hábitos especializados.
Arquitectura
Ao junk-space da cidade genérica junta-se a starchitecture de tiques genéricos e os genéricos que lhe imitam os tiques (o edifício da Vodafone, a praça Itália). Quando existe de facto algo de arquitectura torna-se difícil de o ler sob tamanho ruído mediático que tanto promove a macacada quanto mascara a arquitectura.
Neste ecossistema, a cultura de plástico (fácil, rápida, barata, padronizada) comporta-se como a espécie invasora que, a cavalo do "desenvolvimento económico" se tornando a mais disseminada. As outras espécies de cultura, talvez num mecanismo subconsciente de isolamento do ego, vão-se tornando cada vez mais raras, auto-referenciadas e inacessíveis. Onde entra o "progresso" assistimos a uma separação de públicos, separação das formas de produção e de distribuição que generalizam uma separação entre o comum e o extraordinário. Na perda de qualidades mútuas, o comum torna-se apenas banal e o extraordinário, meramente exclusivo.
Poderemos algum dia fazer coincidir o comum e o extraordinário ou iremos todos acabar assim?
18 março 2013
Da minha experiência com o Soriano
No início deste semestre soube do que ia fazer o Soriano em Projecto, e tive assim um momento super entusiasta em que decidi que queria partilhar a genialidade da coisa. Lembro-me que pensei em como o queria fazer e, claro, estava seguríssimo de que não me ia esquecer, portanto não apontei em lado nenhum. Anyway, sei do que queria falar, portanto vou começar, a ver se entretanto mais alguma coisa vem até mim.
No primeiro semestre fiz projecto com ele, aliás, fazer projecto com ele foi um dos principais motivos que me trouxeram a Madrid, para grande espanto dos alunos espanhóis, muitos dos quais fogem do senhor com os pés que têm. Foi sem dúvida uma jogada muito inteligente da minha parte, no sentido da minha formação, porque é todo um outro paradigma. Não é simplesmente outra forma de ver as questões, são outras questões. Foi literalmente esforçar-me por esquecer tudo o que me sabia sobre arquitectura para poder aproximar-me, muito lentamente, daquilo que se pretendia ali, da forma extremamente experimental, porém coerente, com que se pensa arquitectura. Passou-se um intenso semestre, e ainda assim não sinto que tenha sido capaz de entrar verdadeiramente na questão, são as condicionantes que nos impõe a nossa formação (algo em que eu acho que não se pensa muito, valoriza-se o ter formação, e é bem, mas não se pensa que a nossa é apenas uma formação, e que tanto nos pode abrir para mais, novas e diferentes formações, como fechar, encerrar-nos na nossa pequena bolha com os nossos dois pritzkers, e fazer-nos acreditar que não há mundo lá fora). Tenho, porém, a convicção profunda de que aprendi imenso, mas imenso. Não consigo pôr-lhe o dedo, mas tenho claro para mim que algo mudou, a um nível com uma certa profundidade. Não sei de que forma se poderá materializar essa mudança, ou se terá alguma vez essa oportunidade, mas enfim. A ver vamos.
Entretanto, essencialmente por dois motivos, não escolhi o Soriano novamente este semestre, coisa que podia ter feito. Não o fiz, primeiro porque quis aproveitar a a variedade de ideias disponível na ETSAM (onde isto nos levava, valha-me deus), e rentabilizar a minha estadia cá, bebendo de uma outra fonte. Segundo, porque o processo de, no último ano do curso, ter a sensação de que não só não compreendo nada do que me dizem, como de que tudo o que sei é indiferente e nada oportuno, é bastante doloroso. E não o quis, não o quero repetir. Não no mesmo sentido, pelo menos.
Mas claro que quando soube do que ia acontecer este semestre, fiquei histérico e a pensar "se não soubesse melhor, ia TÃO a correr para ali outra vez!", porque me parece simplesmente genial.
Trata-se de um projecto conjunto entre a Madrid, Trácia (na Grécia) e Minas Gerais, sobre o tema POP UP: architectures that appear and disappear. Está a ser feito em equipas de três alunos, obrigatoriamente um de cada faculdade.
À semelhança do que já tinha acontecido, foi feita uma publicação-enunciado - trilingue - com as coordenadas para as três faculdades, de que vos deixo partes.
Statement
O curso reflecte nos programas como geradores de situações específicas que podem fazer aparecer e desaparecer arquitecturas reais ou forçar a leitura de condições espaciais e materiais existentes que se expressem em dado momento nessas arquitecturas. Os programas são ilhas programáticas. Podem "ser" quando as condições favorecem a sua visibilidade.
Tal como essas ilhas fantasma que estão no mapa mas que poucos ou mesmo ninguém pode visitá-las. Que não sabemos se realmente existem. Recordai-as. Esses pedaços de terra ancorados ao fundo marinho, que estavam e já não estão. Ou que não estavam e agora estão. Ilhas que aparecem e desaparecem. Que às vezes constavam e já não figuram. Algumas que nunca vais poder ver e que outros viram. Ilhas que se movem e mudam de sítio. Que se materializam e desmaterializam. As novas. As de aglomerados de lixo flutuante. As velhas, que vês brilhar ao longe, sem poder atracas nelas, porque mal te aproximas se desvanecem no horizonte. Grandes ou pequenas. Ilha de Kiribati. Tuvalu. Ilha Lincoln. San Borondón. Ilha Bermeja. Sandy.
Saiu há uns dias no jornal a notícia do desaparecimento da ilha Sandy no Pacífico sul. Media 15 km de comprimento por 3 km de largura e supostamente pertencia a França. O barco científico RV Southern Surveyor, um navio do serviço hidrográfico australiano, tentou chegar até ali pela primeira vez sem conseguir detectá-la, inclusive colocando-se sobre as coordenadas exactas. O fundo permanecia estável a uma profundidade de 1400 metros. Sem rasto de nenhuma particularidade. Ainda continua a figurar nos mapas.
Por que aparecem e desaparecem ilhas, que condições - físicas ou inteligentes - fazem de uma ilha um lugar evanescente, são perfeitas ou precisas - o perímetro de uma ilha não é perfeito porque só com dizer "ilha" sabemos que tem limite, mas não é preciso porque é particular, são inventadas ou descobertas?
Da mesma forma podemos pensar em programas, arquitecturas, materiais, que num momento dado, num lugar, edifício, programa, ou envolvente existente e descontrolado, por circunstâncias específicas que podemos identificar, imaginar, projectar e controlar, se materializam e se convertem em arquitecturas independentes. Mas que antes, ou algum tempo depois de que desapareçam as circunstâncias programadas, voltem a não estar, a desaparecer. A não existir.
Pensamos em corpos reais, em cujo interior se cristalizam, sem que haja suporte prévio, pequenas arquitecturas revitalizantes.
Daremos os lugares específicos de trabalho e o estudante terá que programar as reacções que precipitem o aparecimento controlado destas arquitecturas. Imaginará programas, materiais, modificações físicas sobre o existente que suportarão o que vai surgir.
A arquitectura não necessita sustentações fixas para ser gerada. Não necessita tectónica, mas condições de notificação e sobrevivência. Pode levantar-se em qualquer ponto, ainda que hoje esteja ocupado por outra coisa, por uma arquitectura ou por um buraco negro. A arquitectura precipita-se em reacções controladas, o projecto é o procedimento destas reacções químicas controladas e de programas. E devemos ter em conta que os usuários, no momento de entrar e interagir com um espaço, são certamente os principais reactivos com que trabalharemos.
Nada deve ser fixo, devemos converter os objectos estáveis em eventos, os acidentes físicos em acções, os dados em probabilidades. É fascinante ver que o mais estável do mundo, o próprio suporte físico sobre o qual nos movemos pode ser uma ficção e o mundo do real que nos faz crer é imutável, é absolutamente volúvel e irreal à-vontade.
Como disse, não estou a fazer este exercício por opção, mas tudo isto faz sentido para mim, de uma maneira que não sou capaz de explicar. Foi assim que o Soriano me deixou.
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