Para não pensarem que eu só digo mal do Barroco.

Fui ver um concerto de orgão com programa barroco na Sé. Não pude avisar mais cedo mas se tiverem uma oportunidade de assistir a um, não a percam. E já agora, se ainda não foram lá, porque não visitar a própria catedral?



Sentei-me na madeira dura dos bancos da catedral. Só tinha de esperar que o som daquele gigante enchesse as naves e os corpos dos presentes.
Foi então que vi, eu que até sou agnóstico convicto, Deus em pessoa (talvez “em pessoa” não seja a melhor expressão), enfim, Deus, Ele próprio descer do tecto da capela-mor. E ao som dos graves as colunas salomónicas giraram em espirais de vermelho e branco. E os santos cantavam dos altares. Nos possantes capiteis coríntios cresceram as folhas de acanto verdinhas e delas nasceram frutos dourados.
No fim, enquanto os inacreditáveis harmónicos se extinguiam no granito, nasceu do chão, bem no centro do cruzeiro, Athena rebrilhante.


colunas salomónicas: colunas em espiral típicas do Barroco.
capiteis coríntios: remate superior das colunas da última das ordens gregas e a mais decorada. No caso, um capitel coríntio mas Rococó.
harmónicos: sons que um instrumento emite para além da nota tocada e que são harmonicamente compatíveis com esta. Entre outras coisas permitem-nos distinguir os vários instrumentos. Quantos mais harmónicos um instrumento produzir mais rico é o seu som.
Athena: Deusa Grega da guerra e que dá o nome a Atenas. Havia uma estátua monumental sua no parténon que é um templo do tipo de templos que vem a dar origem às igrejas e catedrais do cristianismo (planta semelhante).














capitel coríntio