02 novembro 2006

Oswiecim

Os corvos abruptos gritam ainda sobre a planura branca
A rede marca os limites com linhas e linhas de espinhos
Rasgados a ferro e sangue
Na carne parada
No imenso frio dos olhos doentes
Súplicas de clavículas
De corpos ausentes e semanas contadas
A saber se
morte
A saber de morte





Alguém disparou na noite. Branco. Contra que muro?

A fogo, no gelado vento, que sopra
sobre o silêncio


NÃO HÁ MAIS POESIA!




Poema de Dália Dias - Fev.2006



Imagem - Forno Crematorio de Auschwitz

8 comentários:

Anónimo disse...

ARREPIA!!!

Provoca-nos um turbilhão de emoções!

Lindo!!!

Anónimo disse...

obrigada, david!

David Gonçalves disse...

É sem duvida um poema fabuloso, e orgulho-me de ter sido eu a publica-lo.

É a ilustração perfeita dos sentimentos que aquele lugar cria em nós.

Sem duvida uma obra-prima...

Parabéns

Anónimo disse...

custa-me admiti-lo de tal forma que deixa de me custar, mas da primeira vez que li o poema cairam-me lágrimas pela face. sem seram forçadas. simplesmente cairam, como se fosse a gravidade a aclamar os corpos que por lá ficaram e o ódio que tentasse de algum modo vomitar-se.

Anónimo disse...

gosto desse ódio regurgitado, reflexamente, como que expulsando a própria realidade monstruosa da sua existência. e a vossa presença lá, obrigando a vida,obrigando a poesia. para que nunca esqueça.

a foto é perfeita.

Anónimo disse...

O DITO, O NÃO DITO E O INTERDITO...

David Gonçalves disse...

Nem de propósito.

Ontem por volta das 23horas deu na 2 um documentário sobre Auschwitz.
É como se lá voltasse e como diz o texto votasse a sentir o frio daquele lugar.

Aproveito e gostava de partilhar com quem não viu o documentário que as câmaras de gás, instaladas no bloco 11 de Auschwitz foram inventadas por um alemão que tinha horror a fuzilamentos, considerava-os um massacre...

Na memória ficam apenas 3 palavras escritas a sangue
"Arbeit Macht Frei"

Anónimo disse...

Diz-se que quando a mágoa não nos cabe no peito... escorre nos olhos... mas não só! Não ha melhor maneira de a transmitir do que escrevendo! E uma imagem vale mais que mil palavras.. mas este poema vale muito mais que mil imagens! Não há palavras para descrever o que faz sentir... E é com muita pena que, ao lê-lo, nos lembramos de quantos actos de irracionalidade os chamados "seres racionais" já provocaram...

Boa escolha... nunca é demais relembrar os motivos que a humanidade tem para se "desorgulhar"...e o quanto tem para aprender!
Continua a postar!