29 dezembro 2006

Borat

Borat não é um filme. Borat é uma enorme experiência "científica" filmada e levada a cabo com grande humor. O autor, Sasha Baron Cohen, apresenta aos seus "apanhados" uma personagem que é uma caricatura muito exagerada de um possível habitante do Cazaquistão. Borat é o cliché do islâmico imaginado pelo ocidental.
Esta é uma comédia que rapidamente perde a graça porque o susto e o espanto começam a sobrepor-se ao riso.Porquê? Porque a experiência conduz a resultados alertantes.
1. De um modo geral, os americanos vão acreditando em todas as parvoeiras/brutalidades que Borat vai cometendo, o que significa que para esses americanos é credível que os cazaquistaneses sejam de facto parvos/brutos. Lembrem-se só da quantidade de actos que já foram justificados com base numa premissa deste tipo ao longo da História.
2. Também com susto, conclui-se que afinal não há tanta diferença assim entre um islâmico radical e um americano se calhar nem tão radical assim. Por exemplo, num rodeo, o público aplaude ruborizado quando Borat diz: "Nós apoiamos a vossa guerra no Iraque. Que o Bush beba o sangue de todos os homens, mulheres e crianças no Iraque". Mas já antes e sem a desculpa dada pela inserção numa multidão, um cavaleiro pede-lhe para rapar o bigode porque assim pareçe um muçulmano e "quando vejo um gajo desses penso logo que tipo de bomba é que ele terá à cinta". Mas há outras... Numa loja de armas, borat pergunta: "qual a melhor arma para me proteger de judeus", ao que o vendedor responde calmamente: "eu recomendo uma 9mm ou uma 45." Ah... mais uma... Borat fala com um vendedor de carros sobre a resistência e eficácia de um humvee (desculpem, enganei-me. Queria dizer hummer) na tarefa de atropelar ciganos. O vendedor responde com naturalidade e dando indicações positivas sobre a viatura.
O filme é muito bom, diria mesmo obrigatório. Não escapa nada a esta sátira que como boa catarse que é, deve ser um importante sinal de doença para a civilização ocidental. Está lá o American dream na pessoa de Pamela Anderson, mas como diz Borat, é perigoso seguirmos os sonhos com mamas de plástico.

Agora a questão é: serão os EUA capazes de se rir deste filme?