08 julho 2007

5 de Julho de 2007
porque sim

O momento parece fugir…
O tempo não pára e não recua sequer uma lágrima…
Nem por ti
Nem por nós.
Desespero (sorridente) e engulo tudo o que por mais que queira não consigo dizer.
Esbofeteio o abraço que não consegui dar enquanto penso “já o devia ter feito”. (já o devia ter feito.)
Perco-me no que sinto e na forma exímia como não mo permito manifestar. (hoje e sempre… frustração.)
Até as lágrimas secaram no segundo que teria sido oportuno mas deixei escapar. (terá de ser sempre assim?)
Agora quando?
“Da próxima tem mesmo que ser” minto-me, embora o queira, o sinta e o mereçamos, não tem que ser, jamais terá que ser.
Nunca, é o mais provável.
(Neste combate comigo próprio não há empates. Saio sempre derrotado. E choro. Sozinho, claro, não vá alguém perceber – como gostava – o que sinto. Por que(m) sinto.)
«Someone has to be there» cantam-me agora ao ouvido.
Eu lá estarei.
Se não for já, por essa altura, o único, espero encontrar-vos.
Lá.
Partilhando comigo a espera por mim mesmo.
Quando (me) encontrar saberão.
Tudo aquilo que hoje não vos posso dizer.
Tudo aquilo que só consigo (pouco e mal, inevitavelmente) escrever.
Sem dúvida o meio mais frio, calculista e impessoal de o fazer. E no entanto, o único possível.
Não, não me sinto melhor agora.
Porque quanto mais escrevo mais sinto ficar por dizer.
Porque este é provavelmente dos textos mais foleiros que já escrevi.
Provavelmente dos mais sentidos também (talvez por isso…).
Porque só consigo escrever “bem” afastando-me de tudo, cobrindo-me com máscaras de tão inalcançáveis carnavais.
Nunca escrevendo a partir de mim (o verdadeiro). Sempre de um outro.
Agora (pelo menos por esta vez, obrigo-me) é pessoal.
Foleiro, lamechas, inconsciente, ridículo, o que for.
Desta vez, teve que ser.
(«You make me feel like I am whole again», continua ele…)

FIM (abrupto. Não deu para mais, desculpem-me…)

11 comentários:

Pablo Chicasso disse...

"Coração quente, cabeça fria." - disse-me uma vez o meu professor de piano. É assim na música, é assim na arte (na minha e nas dos que comigo concordam; sei que a afirmação é polémica) e será assim no texto que se segue. Será assim porque na frescura da cabeça quero encontrar as palavras justas para expressar o que queima no calor do coração. Ponto por ponto:
1. Também eu cometi o erro de deixar muitos (todos os) abraços por dar na turma que se dispersou com o fim do 9ºano. Odeio errar, odeio ainda mais repetir o mesmo erro.
2. Não empataste, não saíste derrotado. Fizeste-te entender claramente e eu compreendi. Este é até o primeiro texto teu que compreendo em completa totalidade (passo o pleonasmo).
3. Portanto este não é o teu texto mais foleiro mas sim o teu melhor texto. É-o precisamente porque escreveste-o tu mesmo e sem máscara. Gostei de ler e espero que de hoje em diante escrevas sempre assim. Tu.

Jota disse...

não li muitos textos teus, mas gostei bastante deste, pois tal como o pablo senti o que escreveste. se para ti este é foleiro, para mim é mto bom(tal como o xico ontem a tocar piano, emocionou-me), então os outros para mim devem ser obras primas da poesia. sê tu próprio, e continua...

Pablo Chicasso disse...

São poucas as vezes que intervéns e, como sempre, de forma sintética. Mas mais uma vez desconsertante. Obrigado.

Grão de areia disse...

Concordo com o xico: "Portanto este não é o teu texto mais foleiro mas sim o teu melhor texto. É-o precisamente porque escreveste-o tu mesmo e sem máscara."... Há tanta coisa que fica por dizer ou por fazer e infelizmente o tempo não volta atrás... Errar é humano mas de cada vez que se erra aprende-se a não voltar a repetir o mesmo erro... Mais oportunidades virão e se não vierem, teremos de ser nós a criá-las...

*

Anónimo disse...

Obrigada... tu sabes.
Não precisas de mais nada, se utilizasses palavras concretas estarias a limitar demasiado esse sentimento... foi nas palavras que não quiseste (ou nao tiveste coragem de) dizer que ficou tudo dito!
só tu...
Obrigada. Por tudo.

Anónimo disse...

Obrigada pelo diálogo, obrigada Orlando, por tudo isto, pela elegância permanente, até quando as lágrimas estouram e sentimos que a compustura não sobrevive muito bem. Sei do que fala, sei (acredite!) exactamente do sentimento que diz no seu belíssimo texto. Amamos sempre mais o que estamos a perder, é a ordem normal...
Os amigos (entre os quais espero estar) são para falar disso mesmo, para podermos não ter medo dos nossos desejos menos protegidos, usando as mais exuberantes máscaras, que nada escondem, apenas acrescentam, para esses eleitos, outras hipóteses de nós, outros caminhos a descobrir. abraço, que peço já licença para dar ao vivo e ficar dado!

Anónimo disse...

é... a mim nao me deste um abraço LALA! Foi...lol. desinibe-te, nao sejas tao dramatico. se soubesses q era tao mau, nao publicavas. ;)




(o pessoal ta a pegar na tua moda de escrever entre ()'s. lol)


LALA&NINI ;D

Anónimo disse...

Sabem quantas pessoas tem havido desde o princípio do mundo até hoje?
- Duas. Desde o princípio do mundo até hoje não houve mais do que duas pessoas: uma chama-se humanidade e a outra indivíduo. Uma é toda a gente e a outra uma pessoa só.
Um dia perguntaram a Demócrito como tinha chegado a saber tantas coisas. Respondeu: perguntei tudo a toda a gente.
Bastantes séculos mais tarde Goethe confessou por sua própria boca que “se lhe tirassem tudo quanto pertencia aos outros, ficava com muito pouco ou nada”.
Por aqui se vê que cada um é o resultado de toda a gente; o que de maneira nenhuma quererá dizer que seja o bastante ter cada qual conhecido toda a gente para que resulte imediatamente um Demócrito ou um Goethe! Precisamente o difícil não é chegar aos grandes, mas a si próprio!... Ser o próprio é uma arte onde existe toda a gente e que raros assinaram a obra-prima.
O que está fora de dúvida é que cada um deve ser como toda a gente, mas de maneira que a humanidade tenha efectivamente um belo representante em cada um de Nós.'

ALMADA NEGREIROS

Anónimo disse...

Um texto maravilhoso na minha modesta opinião! Não pelo sentido em que foi escrito (sei-o e pt não se dirige a mim) mas pelo o que cada um pode aproveitar dele: ... sim o tempo é terrível!

O tempo devora sonhos, esperanças e sobretudo devora vidas! Gostava de fazer um "click" e pará-lo (e penso que não sou o unico)!

OGC disse...

É bom quando temos finalmente coragem.
É ainda melhor quando percebemos que os nossos medos são infundados.
(Pelos comentários e) Por tudo, um muito obrigado a todos.

Lupe disse...

Li alguns de teus textos, e quando fui clicar para ver o teu perfil não podia acreditar que ainda só tens 18. As últimas linhas (ia por "versos", não sei bem por quê corrigi), a renúncia à "correção" estética e a denúncia do cliché como único meio de expressão no arrebato foram (não vou dizer sinceros porque não te conheço) impecáveis.
Parabéns, desde o outro lado do Atlântico e a uma língua de distância (desculpas por meu português ruim, faz muito que não o escrevo)