13 novembro 2007

«A Arquitectura caminha-se, percorre-se…»


A conversa com os estudantes das escolas de arquitectura que nos preparamos para iniciar foi-nos proposta pelo arquitecto Charles-Édouard Jeanneret-Gris, mais conhecido por Le Corbusier, que assim intitulou uma das suas obras literárias sobre Arquitectura.

Tentarei abordar o tema de forma sintética embora, com efeito, o livro merecesse uma abordagem muito mais vasta e aprofundada.

Sob o capítulo A Desorientação, Le Corbusier começa por nos apresentar a sociedade actual como a mais “desamparada” da História, realçando a perda de contacto entre o material e o espiritual – dois conceitos nos quais, aliás, insiste – na vida do Homem. E é precisamente a partir daqui que somos incitados a reflectir sobre o tema da Arquitectura e, mais ainda, sobre a sua importância no nosso dia-a-dia, no nosso desenvolvimento, na nossa vida.
Segundo explica, a questão da habitação é de extrema importância, pois é na nossa casa que passamos a maior parte do nosso tempo, é lá que nos desenvolvemos enquanto cidadãos; desta forma devolvendo ao Homem o centro da preocupação arquitectónica.

Esta preocupação detém-se também em assuntos mais “técnicos”, se quisermos.
Segundo o autor:
Na conciliação entre o tradicional e o moderno, considerando a tradição como a cadeia ininterrupta de todas as inovações, síntese perfeita para o que se pretende transmitir;
Na utilização do sol como elemento arquitectónico, pois que ele é quem dita (ou pelo menos nos influencia nos) nossos comportamentos mais básicos;
No local, como o pasto oferecido à nossa sensibilidade, à nossa inteligência, ao nosso coração;
Na essência que deve ser dada à obra com a mesma importância com que se desenvolve a sua planta ou o seu corte;
Mais do que qualquer outra coisa, na intenção que colocamos na obra. Nas suas palavras E até podereis conseguir que a vossa casa se transforme num palácio miraculoso de sorriso, depois de, pela atenção consagrada a cada pormenor da construção, vos terdes empenhado em que o palácio que sonháveis fosse, antes de mais, uma casa, uma simples e honesta casa de homem.

Outro aspecto muito focado e, na minha opinião aquele que melhor define toda a reflexão propiciada por esta leitura, é o da técnica + sensibilidade como condição da arquitectura.

Parece-me ainda de relevar uma visão também bastante concisa de Le Corbusier face ao ensino da Arquitectura. O diploma que coroa os vossos estudos deveria conferir um único direito: o de transpor os seus umbrais, e refere ainda que as dificuldades, as verdadeiras dificuldades, nos – estudantes de arquitectura – estão reservadas para o fim da aprendizagem formalizada, para o confronto com a realidade que inevitavelmente será adverso. Fora da arquitectura podereis perfeitamente “fazer negócios” e “vencer na vida”!, afirma, num tom à primeira vista negativo e, no entanto – e acho que não falo só por mim – tão atractivo, tão apaixonante…


Este livro faz com que tenhamos um pouquinho mais de noção daquilo que se fala quando se fala em Arquitectura e, permitam-me o lugar comum, dá-nos ainda mais a certeza de que tanto precisamos. A certeza de que, dê por onde der, é isto que queremos fazer na vida.

Não concordas, Chico? =)


4 comentários:

Anónimo disse...

QUE BELA SÍNTESE E REFLEXÃO! É assim que vou tendo a certeza de que valeu a pena ter estudado convosco...

Klatuu o embuçado disse...

O nome desse gajo sempre me fez lembrar um bolo...

Porque nunca erguem os arquitectos bairros de barracas que fiquem para a história?

:)

Pablo Chicasso disse...

certamente, Orlando! E é interessante reparar como ele consegue comunicar com tanta simplicidade. [aprende ó Zevi (cof, private joke)]. Esse assunto do espiritual/material, parece-me ser realmente importante e uma batalha a travar urgentemente na nossa sociedade cada vez mais tecnicista e excessivamente especializada. desejemo-nos boa sorte.

Carolina Búzio disse...

gostei de pôr um pézinho no vosso mundo... assim já vos compreendo melhor ;)
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