Apesar de todo o meu cepticismo devo admitir que o facto de se pensar na crise que afecta hoje em dia o acto de projectar e particularmente os métodos de ensino adjacentes a este acto já é de si um bom sinal. um sinal de que o problema pelo menos é identificado, o que já não é mau...
Não frequento a FAUP e o que sei é pelo que me é dito na ESAP, frisando isto bem, a FAUP é, então, acusada de ser uma "fábrica de sizas" ou mesmo de ser a "escola do cubo", expressões que me levam a crer que o seu ensino actual é muito estereotipado, "monocórdico" talvez pegando nas palavras de Gadanho e que a liberdade de expressão, particularmente no que toca à forma, se encontra limitada a um propósito final pré-concebido. Sendo assim, e baseando-me apenas nisto, diria que a faup corre o risco de estar agarrada a um ideal que pode começar a estar demasiado estático, e não adaptável a um mundo em constante mudança, um mundo que vai mudando com as suas gentes, gentes que vão tendo necessidades diferentes. Há que abrir horizontes e não pensar a arquitectura sob um conceito demasiadamente concreto e talvez até dogmático. (Mas disto terão, obviamente, outros mais credenciais pa falar.)
Falando da escola do porto em particular, esta terá que se libertar da memória, não pode viver à custa de Arménios Losas, Agostinhos Riccas, Távoras, Sizas,... eles não voltam, e as suas credênciais valeram na sua época, não vão eles valer agora por nós.
Obviamente projectar não é uma ciência (há kem diga que sim, nomeadamente as empresas do ramo imobiliário que plantam reproduções em todo o lado, mas isso já dava outra discussão) e não há formula, obviamente acredito ser de extrema dificuldade pensar como se deve ensinar a arquitectura isto se é que se ensina, na minha opinião ela é transmitida (ou deveria ser) através da discussão e de uma relação como que de mestre para discipulo levando a que este aprendesse a senti-la (sentir a cor do muro, como disse o zé do boné), e percebesse que tipo de solução um determinado problema pede, sendo assim, não creio que seguir modelos arquitectónicos pré-existentes seja o mais adequado, como parece pretender o ensino hoje em dia, é importante ter conhecimento da existência destes modelos, mas sob um ponto de vista critico, não de os colocar no pedestal e tentar a todo custo reproduzi-los. Há que aprender com eles, não copia-los. Se assim fosse a cultura arquitectónica e a capacidade de invenção humana não nos teria tirado dos canones classicos.
Quanto ao tema de apostar tudo em projecto, fico também com o pé atrás. Obviamente projecto é a disciplina de excelencia do curso de arquitectura, no entanto, esta deverá ser como k complementada por outras. A disciplina de psicologia da arquitectura, por exemplo, ajuda a encontrar a sensibilidade fisica e sensorial que a arquitectura pede. O que sente o Homem em determinadas condições, em determinados espaços, (grande Henrique Muga, docente na ESAP e que tão bem transmite isto), outra disciplina de relevo é a de ecologia (muito mal ensinada actualmente) mas que assume relevante importância quando pensamos que estamos a projectar no e para o território, um território do qual temos que ter consciência e conhecer bem, imaginariamos um médico a operar um humano e não saber nada de anatomia?
A solução para esta crise não sei por onde passará. Talvez a crise económica que atravessamos seja um incentivo à criatividade. Quando não há dinheiro, o ser humano tem tendência a reinventar-se, a tornar-se de alguma forma mais criativo. Seja usando materiais mais baratos, criando estruturas mais económicas, sempre tentando responder com igual eficiencia aos problemas. Não sei, pode ser por aqui ou através de outros vectores, mas pelo menos o facto de se pensar no problema já me deixa esperançado na procura da solução...
(Ah! Quanto à faculdade na cidade e vice-versa, é mais que evidente que ambas se devem confundir, arquitectura é cidade e a faculdade deverá ser local de pensamento acerca desta, aliás a própria FAUP, o Siza desenhou-a sem portas ou fronteiras, pretendia uma interacção muito maior cidade-estudantes, no entanto ela não acontece, e na esap por outro lado ainda é pior, devido às suas infra-estruturas fisicas, as suas portas acabam por não convidar o público a entrar e a torná-la espaço público de discussão, torna-se, então, uma espécie de aldeia, privada e fechada sobre si em pleno centro histórico portuense, uma pena...)
Não frequento a FAUP e o que sei é pelo que me é dito na ESAP, frisando isto bem, a FAUP é, então, acusada de ser uma "fábrica de sizas" ou mesmo de ser a "escola do cubo", expressões que me levam a crer que o seu ensino actual é muito estereotipado, "monocórdico" talvez pegando nas palavras de Gadanho e que a liberdade de expressão, particularmente no que toca à forma, se encontra limitada a um propósito final pré-concebido. Sendo assim, e baseando-me apenas nisto, diria que a faup corre o risco de estar agarrada a um ideal que pode começar a estar demasiado estático, e não adaptável a um mundo em constante mudança, um mundo que vai mudando com as suas gentes, gentes que vão tendo necessidades diferentes. Há que abrir horizontes e não pensar a arquitectura sob um conceito demasiadamente concreto e talvez até dogmático. (Mas disto terão, obviamente, outros mais credenciais pa falar.)
Falando da escola do porto em particular, esta terá que se libertar da memória, não pode viver à custa de Arménios Losas, Agostinhos Riccas, Távoras, Sizas,... eles não voltam, e as suas credênciais valeram na sua época, não vão eles valer agora por nós.
Obviamente projectar não é uma ciência (há kem diga que sim, nomeadamente as empresas do ramo imobiliário que plantam reproduções em todo o lado, mas isso já dava outra discussão) e não há formula, obviamente acredito ser de extrema dificuldade pensar como se deve ensinar a arquitectura isto se é que se ensina, na minha opinião ela é transmitida (ou deveria ser) através da discussão e de uma relação como que de mestre para discipulo levando a que este aprendesse a senti-la (sentir a cor do muro, como disse o zé do boné), e percebesse que tipo de solução um determinado problema pede, sendo assim, não creio que seguir modelos arquitectónicos pré-existentes seja o mais adequado, como parece pretender o ensino hoje em dia, é importante ter conhecimento da existência destes modelos, mas sob um ponto de vista critico, não de os colocar no pedestal e tentar a todo custo reproduzi-los. Há que aprender com eles, não copia-los. Se assim fosse a cultura arquitectónica e a capacidade de invenção humana não nos teria tirado dos canones classicos.
Quanto ao tema de apostar tudo em projecto, fico também com o pé atrás. Obviamente projecto é a disciplina de excelencia do curso de arquitectura, no entanto, esta deverá ser como k complementada por outras. A disciplina de psicologia da arquitectura, por exemplo, ajuda a encontrar a sensibilidade fisica e sensorial que a arquitectura pede. O que sente o Homem em determinadas condições, em determinados espaços, (grande Henrique Muga, docente na ESAP e que tão bem transmite isto), outra disciplina de relevo é a de ecologia (muito mal ensinada actualmente) mas que assume relevante importância quando pensamos que estamos a projectar no e para o território, um território do qual temos que ter consciência e conhecer bem, imaginariamos um médico a operar um humano e não saber nada de anatomia?
A solução para esta crise não sei por onde passará. Talvez a crise económica que atravessamos seja um incentivo à criatividade. Quando não há dinheiro, o ser humano tem tendência a reinventar-se, a tornar-se de alguma forma mais criativo. Seja usando materiais mais baratos, criando estruturas mais económicas, sempre tentando responder com igual eficiencia aos problemas. Não sei, pode ser por aqui ou através de outros vectores, mas pelo menos o facto de se pensar no problema já me deixa esperançado na procura da solução...
(Ah! Quanto à faculdade na cidade e vice-versa, é mais que evidente que ambas se devem confundir, arquitectura é cidade e a faculdade deverá ser local de pensamento acerca desta, aliás a própria FAUP, o Siza desenhou-a sem portas ou fronteiras, pretendia uma interacção muito maior cidade-estudantes, no entanto ela não acontece, e na esap por outro lado ainda é pior, devido às suas infra-estruturas fisicas, as suas portas acabam por não convidar o público a entrar e a torná-la espaço público de discussão, torna-se, então, uma espécie de aldeia, privada e fechada sobre si em pleno centro histórico portuense, uma pena...)
3 comentários:
se pra post já é grande imaginem como comentãrio!! xD
Do outro lado do Atlântico, acostumada a ouvir quase a mesma coisa a respeito da literatura e a teoria literária da minha universidade:
Eu acho que aqui o que tem é um problema inerente à universidade (ainda mais às faculdades ligadas com as artes e as ciências humanas) como instituição: a necessidade de ensinar o já feito, o já pensado, que choca com a demanda dos estudantes que procuram que se lhes ensine a criar. A criação, as possibilidades do pensamento, não se ensinam, o que se pode aprender na faculdade é técnica e alguma ferramenta para pensar a realidade. Só por períodos curtos e excepcionais podem as instituições produzir realmente arte ou pensamento, porque os produtores se converterão em professores e a mesma instituição será a que requeira uma "estandardização". Como quase sempre o que acontece é que a grande maioria dos estudantes "compra" o pre-feito que adquiriu e nem nota que deixou de pensar criticamente
Pode ser que a crise force uma certa criatividade, mais como latino-americana que viveu boa parte da sua vida em crise económica, eu não seria tão optimista assim.
Confesso que nunca tinha pensado nisto sob esse ponto de vista, Atenea.
Faz, de facto, muito sentido o que dizes.
O principal problema acaba por ser realmente o conformismo e a falta de espírito crítico reinantes.
[Obrigado pelo comentário! :)]
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