02 outubro 2009

Robert Capa


Robert Capa, fotografado por Greta Garbo

Esteve até há bem pouco tempo aqui em Budapest uma exposição bastante extensa do fotógrafo Robert Capa, dedicada não só à sua obra mas também à sua vida. Nem me pareceria correcto fazê-lo de outra maneira... a pessoa e o fotógrafo eram indissociáveis, e o seu método de trabalho reflectia a sua personalidade... as suas fotografias eram quase espontaneas, intuitivas, emotivas, derivando de um enorme talento e nenhuma formação específica no ramo da fotografia. Peço desculpa pelo clichet que se segue, mas parece-me apropriado dizer que "a fotografia era a sua vida". E morreu por ela.
Embora a exposição estivesse bastante bem documentada e explicada, resolvi ir de maneira a apanhar uma visita guiada. Por isso deixo aqui uma pequena biografia comentada com pormenores da explicação e do filme (Robert Capa: In Love and War) dedicados à vida de Capa, na esperança que seja um bocadinho mais completa do que uma cronologia pura e dura retirada da Wikipedia.



Robert Capa nasceu com 20 anos, numa altura em que Endre Ernő Friedmann e a sua namorada Gerda Pohorylle decidiram mudar de nome para conseguirem vingar como fotógrafos freelancers. Gerda (agora Gerda Taro, inspirando-se em Greta Garbo) publicitava Capa como sendo um fotógrafo conhecido, Americano, aproveitando de certo modo a sonoridade do nome do realizador de cinema Frank Capra.


Greta Garbo, por Robert Capa

Em 1936 partiram os dois para fotografar a Guerra Civil Espanhola (Gerda viria a morrer em Madrid, atropelada por um tanque) e foi nesta altura que Capa ficou mundialmente conhecido, com a fotografia "The Falling Soldier". Ainda hoje se debate a veracidade desta imagem, com bastantes estudiosos a defender que terá sido encenada, contra a família do soldado que diz que de facto ele terá morrido nesse dia.


The Falling Soldier

Na China registou a batalha Taierchwang, voltou para Espanha até ao final da guerra civil em 1939, e encontrava-se nos EUA (tendo fugido dos nazis devido ao facto de ser judeu, filho de pais húngaros) aquando o começo da segunda guerra mundial. Um dos momentos cruciais da sua vida foi o desembarque na Normandia, em que terá tirado cerca de 100 fotografias (munido de duas câmaras Contax II), das quais apenas podemos ver 11, devido a um erro humano no laboratório onde os rolos estavam a ser revelados... mesmo nas que sobreviveram podemos ver que não têm a nitidez e precisão a que Capa nos habituara. A revista Life, ao publicar as imagens, justificou dizendo que estavam "slightly out of focus" devido à emoção do fotógrafo no momento... algo que Capa nunca terá (obviamente) aceite muito bem, vindo mais tarde a chamar ao seu livro "Slightly Out of Focus".



Foi por esta altura o seu romance com a actriz Ingrid Bergman. (que de certo modo lhe "valeu" um pequeno papel, por acaso, num filme de série B que estava a ser filmado em Hollywood... ao ver um actor árabe a falhar repetidamente no papel de criado árabe, terá dito que até ele faria melhor... e fez, valendo-lhe o seu sotaque exótico carregado da musicalidade e cadência húngaras.)
Já em 1947 viajou para a Rússia, e no mesmo ano fundou a "Magnum Photos", juntamente com Henri Cartier-Bresson, William Vandivert, David Seymour, e George Rodger. (Deste modo criou uma maneira de tornar os fotógrafos independentes de revistas em específico, podendo, quanto muito, vender os direitos para usar as fotografias em diversas publicações.)
Deixo aqui duas fotografias (desta altura) de uma pequena estadia de Capa com Picasso, por curiosidade:


Picasso e a sua mulher, Françoise Guilot


Picasso e o filho... acho particularmente engraçado o facto de estarem os dois com a mesma expressão!

Em 1949 assistiu e registou o nascer de Israel, e pensou até que talvez fosse o local ideal para morar... mas foi levemente ferido por uma bala e ao primeiro sinal de sangue recuou.
No início dos anos 50 foi convidado pela revista Life a cobrir a guerra na Indochina, e embora muitos lhe tenham aconselhado a não ir (amigos e parentes que achavam que aquela não era uma guerra "dele", que não havia necessidade de se arriscar), Capa decidiu ir.
A 25 de Maio de 1954 (tinha nesta altura 41 anos), estava a acompanhar soldados que passavam por um campo com minas, e embora tenha sido advertido para não abandonar o veículo militar, Capa não resistiu a aproximar-se mais... vivendo até ao final fiel ao seu "mote":
"If your picture isn't good enough, you're not close enough."
Pisou uma mina e morreu, ainda agarrado à sua câmara.


última fotografia de Capa, antes de pisar a mina

para mais imagens:
Magnum:Robert Capa

4 comentários:

Carolina Búzio disse...

peço desculpa por me ter alongado tanto neste post... quem me dera poder dizer muito mais, especialmente relativamente a fotografias em específico que não coloquei aqui. por exemplo, fotografias de um salto de pára-quedas em que ele participou com os soldados, fotografias essas tiradas em pleno ar pelas duas câmaras que ele agarrou às pernas. Alguns soldados comentaram que achavam impressionante a sua coragem, porque eles, munidos de armas, podiam ripostar caso disparassem contra eles. Ele apenas podia disparar a câmara, sem modo de se defender.
E gostava de ter colocado uma imagem de uns bombardeamentos na cidade... de pessoas a fugir, pois, tal como a guia fez notar, enquanto as pessoas fugiam para se abrigarem, Capa estava lá no meio paradinho, a tirar fotografias.
(há um "Robert Capa Award", atribuído a foto-jornalistas que mostrem o talento e a coragem necessários para fotografar assim de perto a guerra.. e percebe-se porquê!)

Sérgio Pinto disse...

n precisas pedir dcpa por nda rapariga

desconhecia por completo o senhor, só já tinha visto diversas vezes a foto The Falling Soldier, agra saber kem era o autor... a história de vida e a entrega ao acto fotografico a todos os custos são realmente fascinantes! adorei o post!! :D

***

j. disse...

Gosto muito. Tenho aqui um livro sobre ele: "This is War! Robert Capa At Work", organizado e escrito por Richard Whelan. Debruça-se sobre momentos centrais da sua 'carreira' [preferia chamar-lhe vida], como "The Falling Soldier", a Segunda Guerra Sino-Japonesa, a Guerra Civil Espanhola, o Dia D [das fotografias dele que mais me fascinam] e a libertação de Leipzig. Para além das fotografias virem acompanhadas com um texto explicativo-histórico, um dos aspectos mais interessantes do livro é o facto de muitas fotografias surgirem tal como foram publicadas nos jornais e revistas da época. Há também folhas de contacto, notas tomadas por capa, entre outros. Ando a explorá-lo! É mesmo muito interessante ver como ele acabava por construir narrativas através de sequências das suas fotografias, que acabavam por servir como denúncia contra a guerra.

Carolina, invejo-te por teres visto a exposição rrr!

OGC disse...

É mais ou menos claro que já estamos todos em aulas, não é? x)


(Eu ainda não comentei este post porque ainda só consegui ver as fotos e queria mesmo ler tudo primeiro! Shame on me! :X)