Depois de me ter sido pedida a opinião sobre a possível utilidade da ferramenta de Torsten Posselt para projectar arquitectura e enquanto estava a olhar para folhas do meu trabalho de Projecto lembrei-me de mostrar aqui um pouco da minha forma de fazer esse trabalho e explicar porque é que disse que para alguém como a Zaha-Hadid aquela ferramenta pode ser útil e para mim não.
[tudo o que digo a seguir é meramente intuitivo]
Penso que a questão passa por saber se desenho, design e projecto coincidem ou não.
Para um arquitecto como o Siza Vieira, desenho, design e projecto coincidem os três. O projecto faz-se do desenho, isto é, faz-se na acção de se fazer o desenho. São uma coisa só. Mas faz-se também do design. Num projecto dele, a forma como o braço da cadeira encaixa nas costas da cadeira é tão decisiva como a forma como duas pedras se encaixam numa escada ou como o conjunto dos edifícios se implanta. Para falar de Siza Vieria nem faz muito sentido distinguir entre desenho, design e projecto pois qualquer destas palavras pode ser usada para designar qualquer uma das outras duas.
Para uma arquitecta como a Zaha-Hadid, desenho e projecto coincidem absolutamente (mas não design), de maneira tal que a pesquisa da imagem chega a ser talvez mais importante que o próprio projecto, isto é, desenho e projecto coincidem de tal modo que o primeiro chega a submergir o segundo. Digo isto pensando na forma como os efeitos que procura são mais eficazes no desenho do que na concretização do projecto (facto que parece não a incomodar) e por ter ouvido notícia (de fonte segura) que uma parte significativa dos colaboradores do seu escritório não sabe desenhar um corte construtivo de uma janela (haverá outros que o sabem fazer, eles estão lá para outras coisas como p.e. modelar e renderizar magnificamente. De todo o modo, isto pressupõe um tipo completamente diferente de arquitecto). Significa isto que o desenho ganha uma autonomia e, até certo ponto, nem sequer é dirigido para o projecto.
Para alguém como eu, que não sou arquitecto, desenho, design e projecto não coincidem. Para mim, projecto não se faz do desenho, faz-se com desenho, mas não só (e não me estou a referir, de forma nenhuma, às maquetes). Quanto a design ainda não sei bem que lugar é que lhe dou no projecto mas certamente não me parece que a forma como se constroi a cadeira ou a escada não possa ser apenas aquela que melhor combinar eficiência na construção e eficácia no resultado.
Zaha-Hadid (algumas imagens nem andam muito longe das do Torsten Posselt)
Siza Vieira
5 comentários:
[vou comentar mas não vai ser agora. preciso de mais tempo para o fazer com calma.]
gostei de ler a tua visão... e para quem é de fora de arquitectura, é interessante ver como um arquitecto (ou arquitecto-to-be) encara um projecto. E também gostei dos links :)
obrigada!
arquitectura WOW!!
ou
arquitectura aaaah...!
?
Para quem como eu, não entende nada de Arquitectura, o que dizes faz todo o sentido!
Não é necessário perceber, para entender a coerência e a congruência.
Torna-se necessário inventar novos paradigmas...
O meu comentário, que já tardava:
https://www.blogger.com/comment.g?blogID=35650540&postID=1673871839048872010
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