19 abril 2010

Segunda-Feira Azul

Desta vez trago-vos o vencedor do Annecy International Animation Film Festival na categoria de curtas-metragens em 2008, e vencedor de um Óscar em 2009.
"La Maison en Petits Cubes" é do realizador japonês Kunio Katö... e há que admirar a imaginação.
Enjoy!


La Maison en Petits Cubes from Rhena_Sama on Vimeo.

9 comentários:

OGC disse...

Vários comentários:

Fez-me lembrar as cidades invisíveis, Chico. A ideia de ir deixando a casa para trás e elas irem-se sobrepondo. Eu não me lembro com a exactidão da história, ainda não pude ir reler porque é o Sérgio que tem o meu livro, mas fez-me lembrar.

Por esse motivo, Carol, não achei particulamente imaginativo. E não gostei tanto desta "técnica" (que não sei se tem um nome) de... representação. (grrr... falta de vocabulário!) Os desenhos em si, o tipo de animação, gostei mais dos anteriores. Ainda assim achei bonito. Melancólico, mas bonito.

*

Pablo Chicasso disse...

Não sei a que conto te estás a referir em concreto mas é verdade que há la vários que exploram a ideia da efemeridade e consequente necessidade de contínua modulação (manutenção, construção, alargamento). Neste vídeo também achei muito interessante a ideia de que essas "casas" (que se sobrepõem, justapõem, extendem, metabolizam) comunicam através daquele alçapão por onde podemos pescar coisas.

Só acho que seria mais interessante se essa ligação não fosse só uma ligação à memória e ao passado mas antes ele pescasse realmente coisas que trazia para cima e interagiam com a parte emersa. Isto reforçava a ideia de que as casas não se vão simplesmente substituindo e colocava mais enfase no sentido de metabolização. No livro também há algumas histórias sobre cidades que coexistem em paralelo e acho que aqui também seria interessante se a parte submersa também fosse habitada (ainda que de forma diferente). Isso também ajudaria a que não tivessemos simplesmente esta relação entre passado e presente.

(mas enfim, isto já sou eu a faze outra curta-metragem)


PS: obg pela explicação no 1º post. suspeitava que fosse assim mas nunca pensei que fosse possível fazer isso com aguadas (i.e. com desenhos n digitais)

Anónimo disse...

Vejam lá o que é o poder da "associação livre".
Há medida que ia vendo o filme fui-me lembrando:
por oposição - do livro "Heart of Darkness" de Joseph Conrad (que em português teve o título "Coração das Trevas" (muito elucidativo...), cuja adaptação pelo Francis Ford Coppola ao cinema 'deu' no "Apocalypse Now". A água é, neste caso, um rio (E porque não lembrar aqui também o 'Por este Rio Acima' do Fausto?) onde se vão desenrolando episódios que mostram a brutalidade que pode estar (está mesmo) no íntimo de cada um de nós.
por semelhança (não é bem semelhança, mas não tenho melhor expressão) - Fernando Pessoa - ele próprio ou um dos seus heterónimos, pouco importa, que disse: somos hoje o que fomos ontem e amanhã seremos o que somos hoje.[um fluir constante]

Também me lembrei das aulas que recebi antes de ir vender livros de porta em porta quando tinha mais ou menos a vossa idade. E lá me foi ensinado, em termos simples e genéricos o esquema da comunicação:
pensar o que se quer dizer;
traduzir esse pensamento em palavras que o(a) nosso(a) interlocutor(a) possa entender o que queremos dizer;
pedir a(o) nossa(o) interlocutor(a) que nos diga o que entendeu do que dissemos;
verificar se há coincidência entre o que pensámos dizer, o que dissemos, e o que a (o) nossa(o) interlocutor(a) entendeu.

Como em quase todas as mensagens há , neste filme muitas interpretações possíveis.

Eu gostei particularmente do círculo narrativo, isto é: acho que não é por acaso que o filme começa por uma parede cheia de fotografias e acaba com o "tchim-tchim" no copo da amada recordada.

A vida de uma pessoa, sendo feita de "pequenos nadas" (como diz o Sérgio Godinho), de níveis/camadas que se vão sobrepondo e escondendo (à memória curta do dia-a-dia e do "presente constante" que é a luta diária) é, ao fim e ao cabo, uma 'casa de cubos' que começamos a fazer na infância.

Carolina, muito obrigado por me teres proporcionado o regresso às minhas 2ªs feiras de cinema, no cinema Batalha (sessões do Cineclube do Porto) ou no cinema Estúdio, em Costa Cabral, como no tempo em que o meu pai me dava 20$00 por semana (e davam para tanta coisa...)

Zé do Boné

P.S.: Aos "Srs Arquitectos": Está bem que vivam a Arquitectura. Mas tenham cuidado: estejam atentos às coisas belas da vida e, sobretudo, às mensagens que nela podem estar...Por serem belas,muito mais que por serem algo observável por um observador inumano. Não se esqueçam de ser humanos...Gostava de ler os vossos comentários "de pessoas" a propósito do filme.

Pablo Chicasso disse...

Quando falo de "casa" não estou a falar de arquitectura.

OGC disse...

Chico,
refiro-me ao "As cidades e as trocas 4", página 78 da tua edição, do qual me tinhas falado há uns tempos.

Zé,
não acho o meu comentário nada "arquitectónico"! Aliás, fiquei muito satisfeito com esta iniciativa da Carolina precisamente porque (ia dizer "permite", mas decidi mudar) facilita a conversa para coisas e de formas não necessariamente relacionadas com a arquitectura.
Não foi muito desenvolvido, mas ainda assim aquele foi o meu comentário "de pessoa".

*

Carolina Búzio disse...

Xico: diria que a parte submersa também está de um certo modo habitada...
não consigo dizer ao certo o que me fez escolher esta animação. Felimente causou impacto (e conversação, essa é uma das melhores partes)... fez-me pensar também em múltiplas coisas... pequenos pensamentos fugazes, que estarão ou não interligados.
achei interessante o final, acima de tudo porque achei que ele ia querer ficar no fundo, nas memórias da vida que teve...mas voltou à superfície. Fez-me pensar na questão do sobreviver versus viver. Gostei da maneira como a casa em si contava a história dele, como no início estava em expansão e no final vai sendo um apenas "sobreviver", as divisões vão sendo cada vez mais pequenas e ele vai deixando coisas para trás... coisas materiais que ele acha já não precisar, mas nunca deixa os retratos, as memórias.
É simples e bonito... fez-me também voltar a um pensamento, algo que me pergunto de vez em quando, se "no final" (ou num estágio da vida como esta personagem) vou-me arrepender de não ter escolhido outro caminho... se de facto a vida é feita destes pequenos "nadas"... em como poderá ser tão simples e tão bonita...
Orlando: em termos de animação não explora tanto a capacidade da animação de "assumir" o desenho e fazer morf entre duas imagens, por exemplo.(suponho que era a isto que te estavas a referir, quase como se pudesse ser uma filmagem e não necessariamente uma animação, coisa que nunca seria possível na "estória do gato e da Lua", por exemplo)... ao mesmo tempo, é curioso ver como com tão pouco se pode contar tão bem uma história.

Pablo Chicasso disse...

Carol: Gostei de ler a tua resposta porque reforça a forma como terminei o meu comentário. Gosto da leitura que fizeste da história. como eu dizia, o que eu fiz era já outra curta. a tua tb é, embora me pareça mais próxima do que terá sido a do autor. Assim é bom porque me mostraste melhor essa história.
(agora cada um vai continuando a fazer a sua história)

Anónimo disse...

O Zé do Boné escreve:
1 - Não tenho NADA contra os Srs Arquitectos. SEI que estes, em particular, são pessoas. Boas pessoas.
2 - Mas desta vez foram muito redutores na sua apreciação do filme. Há muito mais nele do que casa ou casas. Por isso vos quis "picar"
3 - Se não notem:
- Os retratos surgem no início, lá a mais de meio da história e no fim, mas sempre como memória exterior, mediatizada (notaram que não aparece nenhuma memória fora da dos afectos?).
- O homem mora em UMA CASA - aquilo é uma casa, só uma casa, a que ele foi acrescentando andares, à medida que a "maré" vai subindo.
- a casa com esses acrescentos vai subindo, mas é frágil, como o amontoado de cubos com que a criança brinca (será daí que vem o título?...) [continua]

Anónimo disse...

[continuação]
- Sendo acrescentos, é natural que as novas partes da casa se liguem com as antigas por um alçapão. Por que não?
- se a passagem de um piso para outro não é instantânea. Tem o seu tempo de preparação, de adaptação, de construção, e está sujeita às vicissitudes da vida (todos os tipos de "clima". E é "empurrada" pela subida da "maré"
- é o acaso, o acontecimento fortuito - a queda do cachimbo -, que está na origem das recordações. E a crescente dificuldade de adaptação às coisas novas - o cachimbo novo - à medida que o tempo avança. E é a curiosidade que nos impele a prosseguir na busca dos acontecimentos posteriores - depois de termos reencontrado o cachimbo a que nos tínhamos afeiçoado.
- Justamente os afectos são o que está na base do edifício, da construção "a dois".
- Por isso, as memórias não se pescam - e os alçapões não estão ali com uma função "técnica", são "simples" ligações/acessos.
- As memórias fazem parte do edifício, são interiores ao edifício que cada pessoa vai construindo. (notaram que as fotografias nos são mostradas, mas que todo o processo se desenrola sem que elas sejam utilizadas?).Fazem parte das vivências, da participação dessa pessoa na VIDA (desculpem-me lá a provocação: da vida das PESSOAS que podem ser arquitectos, jogadores de futebol padres, gays, santos ou pecadores, mas NUNCA NO SEU ESTATUTO PROFISSIONAL e SEMPRE COMO SERES SENSÍVEIS).

Gosto muito do filme precisamente por causa dessa SENSIBILIDADE que mostra.

E dá-me a impressão que de cada vez que o voltar a ver o filme me vai mostrar aspectos novos (pequenos pormenores) que me escaparam antes.

Um abraço do Zé do Boné