«Ex.mo/a Senhor/a,
O panorama da exibição em Portugal tem vindo ao longo dos últimos anos a ser desvirtuado em prejuízo dos exibidores independentes, como é o caso da Medeia Filmes. A oferta permanente de bilhetes por parte da concorrência escudada noutros negócios de grande rentabilidade, ou a digitalização das salas obrigando a exibir blockbusters, etc., têm vindo a afectar sobremaneira quer a fidelização de públicos quer a possibilidade de se fazer uma programação regular e independente.
Seria necessário, no contexto actual, proceder à digitalização das salas do cinema Medeia Cidade do Porto, o que, a par dos investimentos feitos ao longo dos anos e dos gastos mensais dessas salas, se tornou inviável. Por outro lado, não podemos vergar-nos à imposição de uma programação de blockbusters, que outras salas já oferecem, como contrapartida dessa digitalização.
Por todas estas razões, a Medeia Filmes vê-se forçada a fechar em breve as salas do cinema Medeia Cidade do Porto. Mas irá continuar o seu trabalho no Porto, concentrando-o, a partir de agora, diariamente no Teatro do Campo Alegre e pontualmente noutros espaços de exibição alternativa. Dedicando-se, cada vez mais, ao cinema alternativo e de qualidade que, desde há duas décadas, tem vindo a mostrar ao público cinéfilo da cidade. Vai continuar a poder ver cinema europeu ou de outras cinematografias que aparecem com mais raridade, do Médio Oriente à Ásia. E cinema americano independente.
(...)
Estamos gratos pela fidelidade à nossa programação ao longo do tempo e contamos que continue a ver os filmes de que gosta, agora no Teatro do Campo Alegre, ou nas sessões alternativas que organizarmos e de que lhe daremos conta.
Atentamente,
Medeia Filmes»
Esta é a última semana de exibições das salas de Cinema do Cidade do Porto.
Por isso, meus caros do norte, ENCHAM-NAS!
3 comentários:
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Camaradas da Arte, unam-se!
«Pois é. 15 anos e 212 dias depois, dois mil e muitos filmes mostrados, cerca de dez mil sessões, o cinema Medeia Cidade do Porto chega à última semana de exibição. Por razões já explicadas, há um tempo em que é preciso agir e mudar. Não falemos de um F de fim. Antes de um R de recomeço. Que é também o R de Ray. De Nicholas Ray. Que, como disse Jean-Luc Godard, «é o cinema». C de CINEMA. C de continua. Recomeço numa perspectiva de adaptação às condições e às novas formas de ver cinema. Continuidade na procura de dar a ver a árvore do cinema, das raízes ao tronco, ramos, folhas, flores e frutos. Dos clássicos e dos consagrados aos novos autores que vamos dando a conhecer. Como escreveu João Bénard da Costa, « “o mais belo dos filmes” não é expressão singular mas plural. Não há “o mais belo dos filmes”, há 100, 200, 300 filmes que são – todos – o mais belo dos filmes.» Já descobriu certamente muitos nas nossas salas, mas continuamos a procurar outros. E nós continuaremos a mostrar-lhos no Porto, diariamente no Teatro do Campo Alegre e, em alguns casos, pontualmente noutros locais alternativos na cidade.
Já no dia 1 de Julho, estreamos, em exclusivo e pela primeira vez em Portugal, um filme da cineasta independente norte-americana Kelly Reichhardt, que foi apadrinhada por Gus Van Sant e Todd Haynes e cuja obra se tem vindo a impor nos melhores festivais. Depois, o filme de Catherine Corsini. E Marco Belochio. E André Techiné. E Mathieu Amalric. E Abbas Kiarostami. E Christian Petzhold. E Andreas Dresen. E Radu Muntean. E Alain Cavalier. E Margarida Gil. E Raoul Ruiz. E Amos Gitai. E...
Esta semana pode ver: 24 CITY, de Jia Zhang-ke, «um filme para amar muito» (JLR, Expresso, 5 estrelas); ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA, de Fernando Meireles, numa homenagem que prestamos a José Saramago [o escritor, depois de ver a adaptação do livro que mais influência terá tido na atribuição do Nobel, afirmou: ««Sinto-me tão emocionado como quando acabei de escrever o livro. [...] É um grande filme.»]; POLÍCIA SEM LEI, remake de Werner Herzog do filme de culto de Abel Ferrara; SEXO E A CIDADE 2; THE ANSWER MAN – EU E DEUS, filme indie-Sundance de John Hindman; ESTÔMAGO: UMA HISTÓRIA NADA INFANTIL SOBRE PODER, SEXO E GASTRONOMIA, de Marcos Jorge, multi-premiada comédia brasileira.
«Buck up – never say die. We’ll get along.» [Charlot, no diálogo final de Modern Times]»
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