07 maio 2011

Dis:Placed
Parte II

Ok. Isto é o que eu ainda não tinha conseguido fazer, mas dado que fui brutalmente picado a fazê-lo, vou tentar.
(nota da produção: isto vai ser escrito à medida que for sendo pensado; não é ainda discurso, antes a sua construção. Espero eu.)


Então:
Eu fiz mesmo questão de fazer aquele post sobre as conferências porque saí de lá mesmo contente e sobretudo motivado. Aquilo tudo deu-me uma espécie de novo fôlego, uma nova fé nos anos que aí vêm.
Porquê? Pois, lá está.
Acho que não vou falar propriamente dos projectos que vi e dos quais gostei porque isso, com maior ou menor eficácia, ficou feito no post anterior.
Vou tentar sistematizar o que me trouxeram de novo.

...

Propostas de arquitectura que não eram arquitectura. Não necessariamente, pelo menos.

As conferências de arquitectos que a gente vê, porque são as conferências de arquitectos que há, tendem sempre a ser pouco mais do que folhear o catálogo das suas obras. Eventualmente vemos mais fotos, eventualmente eles explicam um pouco melhor o decorrer do projecto, se for o Souto manda umas piadas e conta umas histórias ou curiosidades sobre aquilo... mais pormenor construtivo menos pormenor construtivo, fica-se um bocado por aí.
Eu tinha para mim que esse formato "apresentar trabalhos" não era particularmente interessante, não acrescentava muito porque não provocava nada; entrava nova informação, sim, mas informação bastante estéril, que comecei a sentir pouco poder contribuir para a minha formação.
Tendo em conta este acontecimento recente, que foi o Dis:Placed, dei por mim a pensar que talvez o mal não seja o formato. Talvez o interesse ou desinteresse esteja no conteúdo. Mais ainda: talvez esteja na intenção e motivação que decorre da apresentação desse conteúdo.
Ou seja, o Souto até pode dar as conferências mais divertidas a que já assisti, o que por acaso é verdade, mas o discurso dele não tem qualquer objectivo que não esteja totalmente focado na arquitectura e na (sua, como qualquer arquitecto que se preze!) forma de fazer arquitectura.  E não acho isso mal. Mas para essa função já tenho eu aulas de projecto. Quando abdico do meu tempo livre (e em muitos casos, de meia dúzia de euros) para assistir a uma conferência, espero, mesmo que objectivamente possa não ter essa noção, receber algo mais.
Aquela ideia toda, muito faupesca, do "ver arquitectura" parece-me importante, mas também me parece importante ""pensar arquitectura"" (entre muitas aspas porque eu próprio ainda não consigo discernir totalmente a que me estou a referir), e isso poucos nos motivam a fazer. Se o alçado que escolhemos como modelo fica bem naquele edifício e naquele sítio, ninguém quer saber se ele é apenas uma composição bonita ou se por acaso é também uma componente de algo mais, algo ""maior"" (de novo). Para citar um elemento do corpo docente do 3º ano: "logo que pareça bem", assunto arrumado, o valor que nos ensinam a procurar é esse.

Estas conferências não foram assim. Foram apresentados projectos (alguns tipicamente "arquitectónicos" outros não) que pretendiam, mais do que constituir um portfolio "bonito", provocar coisas. E a forma como foram apresentados reflectiu isso.
Fazer sobre um grande campo relvado uma espécie de cobertura composta por não sei quantas centenas de balões em forma de zebra não é arquitectonicamente muito respeitável. E os Encore Heureux estiveram-se nas tintas para isso. Mostraram-me o impacto que aquilo teve nas pessoas, na forma como elas reagiram e viveram aquele espaço enquanto a instalação lá esteve. Disseram "more brain, less material" e deixaram-me a pensar no raio das zebras. Deixaram-me a pensar no valor potencial que uma coisa tão simples como um balão pode ter na dinâmica de uma cidade.
Arquitectura, digo eu, também é sobre isso.

Os projectos que eu seleccionei, são aqueles que eu achei que questionavam mais, ou de forma mais interessante, a visão standardizada com que, à custa do todos-os-dias, nos vamos habituando a ver as coisas.
E isso motivou-me.

3 comentários:

OGC disse...

Respondi? :)

Chicasso disse...

agora estou a estudar HAP, mas só por isto, posso prometer já que vou ler com atenção

Pablo Chicasso disse...

"Propostas de arquitectura que não eram arquitectura. Não necessariamente, pelo menos."

Pois acontece que também são arquitectura. A questão é: o que é arquitectura?

Como o Manuel Mendes ressaltou várias vezes, na FAUP, Projecto é frequentemente confundido com Arquitectura e esta é baseada quase exclusivamente no "saber positivo da construção". Na sua concepção, o projecto valida-se pela forma e pela materialidade construtiva.

Eu também discordo disto e, na minha óptica, o Projecto não tem autonomia e é uma disciplina de Arquitectura, tal como História, Construção, Teoria ou Urbanística.
Talvez conceda apenas à urbanística uma certa autonomia (congénita) e por isso considero Projecto como o espaço onde exercito numa "prática criativa" as aprendizagens e investigações desenvolvidas na Construção, na Teoria e na História.