14 junho 2011

Duas analogias com o plano urbanístico e o projecto de arquitectura

Qualquer pessoa que tenha viajado conhece certamente um certo tipo de grupo de turistas, normalmente japonês, que aparenta nas suas deslocações uma disciplina militar. Andam sempre em grupo, disciplinadamente atrás do guia, aparentemente sempre com pressa para cumprir os seus horários à risca, a ponto de, nos museus ignorar todos os quadros até chegar àquele onde o guia os faz parar. São “men on a mission” e pretendem cumprir todos os objectivos que traçaram em casa de ver todos os monumentos e pinturas e fotografá-los.

Pessoalmente, não gosto de viajar dessa maneira. Quando viajo não procuro levar o plano completamente traçado de casa. Em vez disso, o que faço é acumular e organizar o máximo de informação possível sobre o(s) sítio(s) que vou visitar. Com isto, quando chego a uma cidade, sei orientar-me nela, sei onde ficam todas as coisas que gostaria de visitar, quais estão mais perto e mais afastadas entre si, quais se vêem mais rápido e quais requerem uma visita mais demorada, levo comigo todos os horários e preços. O objectivo disto é, em vez de tomar as decisões em casa, levar comigo toda a informação para decidir o melhor possível quando lá estiver. Assim, a cada novidade, seja indesejada - uma fila mais extensa, um feriado que eu desconhecia – ou agradavelmente inesperada – uma visita mais demorada ou uma festa local – o plano está sempre pronto a ser refeito e a cada dia ajusta-se para o seguinte.

Gosto de ter um plano mas é para saber onde é mais vantajoso fugir dele.



Não me imagino a seguir um GPS. Gosto mais de mapas. Um GPS aponta-nos um caminho, “decidido” por ele, e nós só podemos segui-lo desconhecendo o que vem para a frente ou quais as alternativas de percurso. Com um GPS eu chego a um sítio sem saber necessariamente como fui lá parar. Gosto de mapas porque os mapas mostram-me múltiplas possibilidades e oferecem-me inúmeras possibilidades de construção de caminhos. Com um mapa eu estudo os caminhos, eu sei onde estou, para onde quero ir, sei o caminho e posso a cada momento tomar novas decisões, em função das condições presentes. Com um mapa eu posso introduzir alterações sempre que me apeteça, posso cruzar caminhos e recombiná-los.

Com um mapa eu posso ir aonde quero.

3 comentários:

OGC disse...

Acompanho-te!

Também eu já fui um "man on mission" em museus e coisas que tais, mas agora, embora continue a fazer questão de cumprir determinadas metas, quando viajo preocupo-me muito mais com estar nos sítios, simplesmente, perceber como se vive ali, com momentos de tão pouco turista quanto possível. [Em relação a isso mas não só,] Aquela sede de ver tudo, fazer tudo e estar ao mesmo tempo em todo o lado já não me faz tanto sentido como há uns anos.

Quanto ao gps acompanho-te ainda mais, credo! Escapa-me completamente o fascínio desse método e tu descreves muito bem porquê.
Os desvios em geral tornam tudo mais interessante; mesmo quando não acontecem, só a possibilidade, só o saber que não se sabe tudo à risca torna tudo muito mais divertido! :)

OGC disse...

Ah!
Como não voltas a referir, uma pessoa até se esquece. Acompanho também a analogia! Tendo a, pelo menos.

hesseherre disse...

Tens toda a razão, meu amigo...estas missões germânicas estressam-nos...
O bom é fazeres como tu fazes....na medida do certo.
Abraço!