11 setembro 2011

Da minha implicância com a bandeira LGBT


Parece que ultimamente me ando a revoltar com imensas coisas mas não é bem verdade. Ultimamente ando apenas com tempo, vontade e disponibilidade mental suficientes para escrever sobre as coisas. A ver se ganho o hábito de combater a preguiça.



Baseio a minha posição na ideia de que a orientação sexual não define, em si mesma e por si só, quem quer que seja; diria ser apenas mais uma característica do indivíduo, tão definidora como a cor dos seus olhos, sem implicações existenciais latentes.

Parece-me, portanto, algo estranho que na defesa desta mesma ideia se constituam grupos manifestamente autónomos da sociedade em geral. Se é a integração e a igualdade que se defende, espanta-me que essa defesa aconteça num regime de uma certa auto-segregação, através da colocação de uma ênfase tão acentuada nas diferenças que se pretende relativizar.
Em certo sentido, a própria existência de uma comunidade LGBT, da forma como se apresenta e interage, pode parecer incoerente. Obviamente que me parece positiva e natural a existência de grupos organizados de pessoas com interesses em comum, no mesmo sentido em que há clubes de xadrez e confrarias do vinho do Porto. Neste caso, é evidente, acrescem as possibilidades de apoio e informação, que continuam a ser úteis, mesmo actualmente (sobretudo, diria eu, devido à ainda escassa existência de referências não-heterossexuais de um forma generalizada, embora comece a sentir uma certa e mais clara tendência para abordar o assunto de forma menos complexada e complexizante [que é uma palavra que aparentemente não existe mas eu acho que devia!], por exemplo em séries e filmes). Mas ainda assim, a ideia de gay pride, escapa-me. Porque raio hão-de os gays (no caso, os LGBT’s em geral) ter mais orgulho em si do que os heterossexuais? Em que medida pode uma orientação sexual – seja ela qual for – fazer de alguém melhor, mais merecedor de respeito, orgulho e admiração? Não é, aliás, contra essa distinção que eles se manifestam? (E digo ‘eles’ por não me sentir parte de uma comunidade cuja bandeira perante a sociedade parece assentar mais nas diferenças que pretensamente pretende abolir – e que eu acredito nem sequer existirem – do que na aplicação dos princípios de inclusão que dizem defender; a própria identificação como LGBT – lésbicas, gays, bissexuais e transgenders – é, logo a priori, exclusiva!)

Sinto quase como se se tivesse passado do 8 para o 80, da discriminação de não-heterossexuais para a discriminação de heterossexuais quando, afinal, o princípio reprovável é o mesmo. (haver bares gay onde um hetero, por ser hetero, se sente desconfortável é um resultado irónico mas muito pouco respeitável da parte de quem passou décadas a queixar-se de falta de à-vontade em bares em geral.)
No fundo, a minha questão é tão simples como isto: como pode alguém exigir ser tratado como igual agindo de maneira diferente? Ie, gostar de alguém é gostar de alguém; homens e mulheres são, nesse sentido, equivalentes, portanto gostar de uns, de outros ou de ambos não é, para mim, agir de forma diferente. Daí a minha dificuldade em perceber a insistência e a necessidade de afirmação LGBT (os dias de hoje já não são os de ontem, convém notar! hoje já não creio que se justifique) que, em certa medida, fomenta ela própria a perpetuação de diferenças que, de novo, defendo não existirem.


9 comentários:

Psinocas disse...

Quem nos faz como somos?
Quando penso que a homossexualidade foi considerada patologia e tratada em hospitais psiquiátricos com choques eléctricos e que cheguei a assistir a estes tratamentos no Conde Ferreira na década de 80...
Penso que isto da orientação sexual é um continuum, em que numa das pontas teremos os 100% homo, no outro extremo os 100% hetero e pelo meio uma variedade enorme de orientações sexuais, passando como é óbvio pelos bissexuais.
Aquilo em que acredito completamente, é que somos capazes de gostar de pessoas, ponto final. Creio que iremos caminhar para uma bissexual.
E como dizia Fernando Pessoa «Ser plural como o universo».

Carolina Búzio disse...

(devo dizer que penso o mesmo das feministas... acho-as umas hipócritas quando pedem a igualdade e acabam por, tal como o nome indica, serem uma versão feminista de um machista... por achar que na verdade devia haver mais direitos para as mulheres. suponho que terá sido preciso esse orgulho que referes, esse "gay pride" quando a sociedade precisava de um choque, de ser abanada nos seus preconceitos e aceitar que havia muita gente assim e que estavam fartos de serem recriminados. Mas agora, como referes e bem, não percebo qual é a necessidade... a não ser perpetuar essa diferença)

Anónimo disse...

Estou plenamente de acordo!
Não entendo a necessidade de discriminação se não como insegurança de si mesmo perante o mundo exterior a si mesmo.
É assim que entendo desde que alguém,na minha juventude disse, numa conversa como esta, que os machistas são-no porque têm necessidade de mostrar a virilidade que duvidam ter.
Sim, porque também é preciso ser-se viril para ser homossexual ou mulher ou homem.
Zé do Boné

Anónimo disse...

Quase a propósito:
É por isso que há arquitectos que são contra os bairros (seja lá do que for). Porque não há maior riqueza na Natureza do que a diversidade.
Zé do Boné

Pablo Chicasso disse...

Como não tenho nada a acrescentar ao que foi exposto com tanta clareza e correcção, senão apenas que concordo, vou comentar outra coisa. Uma vez que existe o verbo complexificar, o adjectivo correspondente seria complexificante. ;)

OGC disse...

O Pessoa sempre me pareceu um gajo altamente! :)

Quanto ao meu neologismo, eu perdi na verdade uns bons 10 minutos a debater-me sobre a questão e a verificar coisas no dicionário. Optei por complexizante e não por complexificante, porque complexificar significa tornar complexo, quando o que eu queria dizer era tornar complexado. :P

Obrigado pelos comentários! :)

Sérgio Pinto disse...

concordo plenamente! vinha falar de feministas e racismos mas vejo que já abordaram de tudo um pco.

resta-me apenas:
o raio da bandeira! ...ék é mesmo feia!! puorra!! xD

OGC disse...

Oh, e não. :P No sentido em que pretende incluir as "cores" todas é um símbolo bastante pertinente e eficaz! Eu gosto do arco-íris. Embora, lá está, a bandeira actualmente acabe por significar mais "todos diferentes" do que "todos iguais". [até há uma bandeira bissexual, que foi uma descoberta que me fascinou. É que... para quê?]

OGC disse...

"Everyone is different. The problem is most people want to be the same."

[Relatório Kinsey]