28 janeiro 2012

El cuarto oscuro

XV
Para la entrada de la tarta de cumpleaños alguien me solicita que me levante y apague la luz. Quiero creer que es para impedir a la luz artificial el estar presente en un momento así, y que es para que todos los que han venido a esta celebración, y que desean tener ante sí el recuerdo de un nacimiento del que se alegran, puedan mzclar la pequeña luz que sale de las velas - que representa los años transcurridos - con la luz tenue de una única habitación - que representa el lugar del transcurso. Y pienso que las velas de las tartas de cumpleaños sólo pueden encenderse con propriedad en la casa que ha sido testigo de esos años cumplidos. Y que sólo pueden ser apagadas allí, aplaudiendo y cantando en ese cuarto, donde la luz es de uno.

Santa-Maria, Luís Martínez: El Libro de los cuartos; pg. 233.


O que nos oferecem os apartamentos correntes?
Um conjunto de espaços para as funções que temos de cumprir diariamente: uma cozinha para cozinhar, um quarto para dormir com uma mesa para trabalhar e casas-de-banho para a higiene do corpo (quantas mais melhor!).
E cada vez nos parece termos menos tempo para tudo o que temos de fazer. E o que nos oferecem esses apartamentos para o tempo que resta?
A sala de estar?
Uma divisão deveria ser o lugar do tempo transcorrido. Qual a divisão de uma manhã bem passada? Qual a divisão de uma tarde que durou todas as suas horas?
Certamente não a da televisão, aparelho de anulação do transcurso do tempo.
Nos cuartos apetece estar a estar.
"Às vezes é preciso deixar de fazer o urgente para fazer o importante", ouvi um dia alguém dizer. Ou seja, transformar o tempo que resta em tempo que não são restos.

8 comentários:

Anónimo disse...

Talvez não venha a propósito, mas o que escreveste lembrou-me aquela história do velho capitalista rico que tenta convencer o "indígena" do paraíso turístico onde passava férias das vantagens da organização capitalista: em vez de apenas pescar o necessário para a sobrevivência da sua família deveria arranjar mais barcos e mais redes e ter empregados para poder vender muito peixe que lhe permitiria comprar mais barcos e ter mais empregados para vender mais peixe, etc.
E o "indígena": para quê?
Resposta: para quando fores velho poderes gozar a vida como eu!

Pois é: andamos sempre a ouvir falar da crise e, no nosso modesto caso, a sofrer um pouco com os cortes nos rendimentos por força da redução dos vencimentos/ordenados ou dos despedimentos ou dos aumentos dos impostos e dos preços dos bens essenciais e somos forçados a trabalhar mais, porque é preciso aumentar a competitividade do país, mas a verdadeira QUALIDADE DE VIDA nem sequer é referida.
Além disso, quando não se fala de crise, (e mesmo durante a crise) somos bombardeados com mensagens que nos impelem (se não tivermos o cuidado de agir crìticamente, como seres pensantes) a "estar actualizados" com o modelo do último grito de televisor, automóvel, telemóvel, casa, computador, jogo, etc., seja nos anúncios de exterior, ou nos intervalos - mais longos do que a lei permite - dos programas de tv, ou nos cinemas ou nas "revistas cor-de-rosa", como a "Caras".
Curiosamente, os produtos que poderiam contribuir para que as pessoas pudessem ter uma melhor velhice (produtos de poupança, de acumulação, de que há pouco mais de 20 anos foram lançados com esquemas de isenções fiscais passaram a ser remunerados com taxas de rendibilidade cada vez mais baixas e, inclusivamente, perderam os incentivos fiscais (porque o Estado, que gastou mal, precisa urgentemente de receitas).

Na verdade Chicasso, esta sociedade que tanto apregoa o predomínio da liberdade individual, mais não faz do que incutir nas pessoas o individualismo, a ponto de que para se ter sucesso as carreiras das mais diversas pessoas que mais entranhadamente estão apanhadas pela adoração do "bezerro de ouro" [ou será o ganso que deram à srª Merkl], levam, em muitos casos, a que a própria relação familiar não seja mais que um "fait-divers": as pessoas casam porque sim, é de bom tom, mas se se divorciarem passados três ou seis meses não faz mal, o que interessa ver no balanço final dessa relação é se se subiu na carreira, se se conheceu alguém que nos pode ajudar a ganhar mais dinheiro e estatuto...
O resto, bem... mesmo nesses casos já não podem receber os seus amigos na sala de estar.

Ainda a propósito:
"Falar de uma casa não é apenas referir as medidas dos seus compartimentos ou descrever com minúcia a distribuição dos seus espaços. Também é isso. Mas por mais rigorosa que seja essa informação ela é sempre insuficiente para se obter um retrato satisfatório do que é mais relevante quando falamos de casas: os momentos de vida de que foram ou são protagonistas." (in "A CASA em Roberto Ivens", na introdução à entrevista a Álvaro Siza por José Salgado, a pág.9, brochura da CASADARQUITECTURA, Centro de documentação Álvaro Siza.

Já me alonguei de mais, desculpem.
Um abraço do Zé do Boné

OGC disse...

Péssimo timming, Chicão.
Eu comento, os dois, quando os conseguir ler com calma e pensar sobre eles.

[boa viagem.]

Marys' disse...

"Às vezes é preciso deixar de fazer o urgente para fazer o importante"

Não podia estar mais de acordo!

Carolina Búzio disse...

Sim, mas é dificil isso... juro que tenho tentado, mas não é facil deixar de lado o urgente para fazer o importante.

Psinocas disse...

Reflexão profunda sobre a forma de viver a casa e as relações.
Gostei muito!
Admiro-te e gosto muito de ti!

OGC disse...

Depende de como vês as coisas.
Concordo com a frase e percebo onde se quer chegar com ela, mas as coisas podem coincidir e para além disso têm a urgência e a importância que lhes deres. Nesse sentido acho que faço uma gestão bastante equilibrada de todo o meu tempo, não apenas do tempo que resta.

Pablo Chicasso disse...

eu não estava a falar de nem para ninguém em concreto...

OGC disse...

Mas agora foi para mim?
Sim, eu sei, eu também não! :P