30 agosto 2012


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É tão estranho que alguém nos tenha obrigado a ficar reduzidos a um único ser.
É tão estranho sentir que a linha que se estende a partir de nós vai avançando ao longo dos espaços enevoados que constituem o mundo exterior. Ele já partiu. Eu fiquei, segurando o seu poema. Entre nós existe esta linha. Contudo, é tão reconfortante saber que aquela presença estranha deixou de se fazer sentir, que deixei de ser observado! É tão bom correr os estores e admitir que não está mais ninguém presente, sentir que todas aquelas figuras familiares que ele e a sua força superior fizeram fugir, regressam dos cantos escuros onde se refugiaram. Os espíritos observadores e trocistas que, mesmo neste momento de crise, zelaram por mim, voltam a casa. Com a sua ajuda, sou o Bernard; sou Byron; isto, aquilo, aquele, outro. Escurecem o ar e tornam-me mais rico com as suas atitudes trocistas, os seus comentários, obscurecendo a simplicidade deste momento de emoção. É que eu tenho mais personalidades do que aquelas que o Neville julga.
Não somos tão simples como aquilo que os nossos amigos gostariam que fôssemos.
No entanto, amar é simples.
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As Ondas, Virginia Woolf