04 novembro 2006

Falemos então de fotografia

Como personalidade do mês de Novembro, deixo aqui um post sobre o fotógrafo parisiense Robert Doisneau.

O fotógrafo do famoso Beijo do Hotel de Ville nasceu a 14 de Abril de 1912 numa localidade perto de Paris e a sua carreira abrange o período que vai desde 1929 até à sua morte, no dia das mentiras de 1994 a apenas 13 dias de completar 82 anos.

E mentiras, deliciosas mentiras, era o que ela sabia contar melhor. Com diferentes empregos enquanto fotógrafo ao longo da vida, dizia-se "repórter a título privado". Era aí que captava (frequentemente também encenava, mas isso não lhe tira mérito) imagens de um realismo poético sedutor. Relismo mas mentiroso. Sempre com uma perspectiva muito humana, regista (mesmo durante a Segunda Guerra Mundial) os momentos de simples felicidade, as ansiedades e os aspectos peculiares da vida dos seus modelos. Da Guerra nunca mostra o conflito, a destruição. Sempre as pessoas.

"Place Saint Michel" 1944

"Café branco e negro"1948

"Apostas ao bilhar": a luz parece de Vermeer. 1945


"O olhar oblíquo" 1948

5 comentários:

Anónimo disse...

é fantástico.. é fantástico..

capta (ou encena) aqueles momentos que nós (eu, sim) vamos reparando no dia-a-dia, na nossa vida de contempladores, e que nos fazem sorrir. por serem assim tão simples, tão 'do quotidiano', mas por serem momentos, e por nós observados naquele segundo. as expressões, o enquadramento (ai, se o meu olhar fosse uma máquina fotográfica!)

eu confesso que são esses momentos que me fazem feliz (sou uma usual contempladora, portanto). fascina-me como Robert Doisneau os transporta para o suporte de papel sem que eles percam a sua magia. c'est magnifique!









["A quem, como eu, assim, vivendo não sabe ter vida, que resta senão a renúncia por modo e a contemplação por destino?"]

Anónimo disse...

imagens que passais pela retina dos meus olhos, porque não vos fixais? (Camilo Pessanha, poeta simbolista)

Anónimo disse...

então???o povo está morto???
não me digam que perderam a energia vital...ou a vontade de polémica. reajam, criaturas!!!!falem mal ou bem, mas digam qq coisinha!

Anónimo disse...

A fotografia é "o tempo cristalizado".
O tempo de exposição da película (da película?, agora?...). O tempo suficiente para apanhar aquele instante de luz (com ou sem cor) e sombra.
E, depois, é o tempo de a ver, e o tempo de a rever. Uma fotografia nunca é igual a si própria, porque nós também não somos sempre iguais a nós próprios (e se há aí desse lado alguém que pensa que não mudou, não muda e não mudará eu lhe digo: Kyrie eleison!)
Mas deixem que, a propósito desta ideia à volta do tempo, lhes faça algumas citações:
1 - da crónica semanal do João Bénard da Costa no Público (chamada "A casa Encantada", como o filme de Hitchcok) do ultimo domingo:
"De cada vez que pego num livro que conheço bem, não resisto a procurar esta ou aquela passagem e, quase sem dar por isso, estou a reler a obra toda, como se a lesse pela primeira vez.
2.Como se a lesse pela primeira vez. ...
...não é nada disso que acontece. O que acontece é que nunca se lê como se leu a primeira vez. O livro não mudou, mas mudámos nós. ...Muita coisa em que nem tínhamos reparado impõe-se-nos com evidência. E a cada vez é diferente....
...Por isso, as únicas pessoas com quem não consigo falar destas coisas (estas coisas de filmes, quadros, óperas ou peças de teatro) são as que me respondem logo com um seco "já conheço" (nada de exageros, o "já conheço" até pode ser molhado) à proposta de um reconhecimento ou de uma revisão.
E não há sentimento mais frustrante do que um filme, uma ópera, uma peça, um poema, nada me mais diz do que antes já me dissera. Nestes casos, sim, começa uma irremediável despedida. Um caixão fechou-se." E depois segue, "falando" da descoberta que fez em mais uma re-visão do "Esplendor na Relva" do Elia Kazan.

2 - De Léo Férré, um poema que é muito conhecido como canção:

Avec le temps, avec le temps

Anónimo disse...

Que aconteceu?
o meu comentário foi enviado ainda a meio...

retomando a 2ª citação:

Avec le temps...
Avec le temps, va, tout s'en va
On oublie le visage et l'on oublie la voix
Le coeur, quand ça bat plus, c'est pas la peine d'aller
Chercher plus loin, faut laisser faire et c'est très bien

Avec le temps...
Avec le temps, va, tout s'en va

L'autre qu'on adorait, qu'on cherchait sous la pluie
L'autre qu'on devinait au détour d'un regard
Entre les mots, entre les lignes et sous le fard
D'un serment maquillé qui s'en va faire sa nuit
Avec le temps tout s'évanouit

Avec le temps...
Avec le temps, va, tout s'en va

Mêm' les plus chouett's souv'nirs ça t'as un' de ces gueules
A la Gal'rie j'farfouille dans les rayons d'la mort
Le samedi soir quand la tendresse s'en va tout seule
Avec le temps...
Avec le temps, va, tout s'en va

L'autre à qui l'on croyait pour un rhume, pour un rien
L'autre à qui l'on donnait du vent et des bijoux
Pour qui l'on eût vendu son âme pour quelques sous
Devant quoi l'on s'traînait comme traînent les chiens
Avec le temps, va, tout va bien

Avec le temps...
Avec le temps, va, tout s'en va

On oublie les passions et l'on oublie les voix
Qui vous disaient tout bas les mots des pauvres gens
Ne rentre pas trop tard, surtout ne prends pas froid
Avec le temps...
Avec le temps, va, tout s'en va

Et l'on se sent blanchi comme un cheval fourbu
Et l'on se sent glacé dans un lit de hasard
Et l'on se sent tout seul peut-être mais peinard
Et l'on se sent floué par les années perdues
Alors vraiment
Avec le temps on n'aime plus.

Léo Ferré

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