06 setembro 2007

Colecção Berardo

Visitámos (nós bloggers e alguns dos habituais leitores) recentemente o museu da Colecção Berardo, em Lisboa. Muito francamente a minha opinião é esta: tem obras de que gosto muito e tem outras que não me dizem nada. Mas não será isto o que habitualmente sentimos perante uma mostra de arte contemporânea devido à demasiada proximidade histórica da mesma? Penso que sim.

No dia seguinte visitei a colecção Gulbenkian. Notei uma grande diferença, que na minha opinião explica muito mais o que senti na Berardo do que a questão histórica. Essa diferença não a soube eu expressar na altura mas encontrei ontem num livrinho de Le Corbusier a sua mais perfeita passagem a palavras. O livro é Conversa com os estudantes das escolas de arquitectura (Livros Cotovia): «Será do nosso gosto reunir séries de objectos que declaramos todos contemporâneos perante a nossa sensibilidade, ainda que não o sejam de modo nenhum no tempo. O anacronismo, aqui, não se mede à escala do tempo; surge apenas no hiato de coisas dotadas de almas díspares. Neste plano da sensibilidade, o contemporâneo é o encontro de almas gémeas. E objectos vindos de todos os tempos e lugares podem reivindicar essa fraternidade.»

Na minha opinião, dá um maior prazer visitar a colecção Gulbenkian porque existe nela maior coerência ao nível da sensibilidade. Apesar de provenientes de lugares e tempos tão díspares como o Egipto do século VII a.C. ou a França do fim do século XIX todas as peças são contemporâneas na sensibilidade. Na Colecção Berardo (que inclui apenas peças do século XX) não encontrei a mesma coerência. Encontrei por vezes os anacronismos que refere Le Corbusier. Não se consegue, por isso, perceber o gosto nem a sensibilidade intrínsecos à pessoa do coleccionador.


Esta é a minha opinião sobre o nosso mais recente museu. E a vossa?

P.S. 1: Quero mesmo assim ressalvar a minha satisfação pelo facto de Portugal ter garantido para si a conservação de uma colecção como esta, que contem obras de elevada importância.

P.S. 2: Acho que nós cá na Europa estámos muito centrados nos nossos museus, na nossa arte, etc. Somos o Velho Continente e a enorme História que temos para trás por vezes tolda-nos a vista para fora desse património. Gostava que me falasses do vosso património cultural, Atenea.
Como quiseres, deixa isso num comentário, manda-nos links de museus daí, de sites que tenham fotos da vossa arquitectura... qualquer coisa que satisfaça a nossa curiosidade por favor. Obrigado.

5 comentários:

damas do sinal disse...

we're back*

Lupe disse...

Buenos Aires sempre foi uma cidade que viveu de costas para o seu próprio continente, voltada para a Europa. E os museus de arte são amostras claras disso. Temos dois que são sinónimos do establishment cultural, e que geralmente têm mais de arte ora europeia, ora legitimada na Europa.
A minha formação, como eu já disse antes, não é em artes visuais, mas em literatura. Então os exemplos mais claros que posso pensar do nosso património são antes literários do que visuais: os nossos escritores mais reconhecidos não o tinham sido até que a Europa os descobriu: Borges, que passou a ser a grande figura após Les mots et les choses de Foucault, e Cortázar, que não fez tanto barulho na crítica literária de fora e portanto passou muito tempo antes de ganhar o reconhecimento que merecia.
Links pedidos:
Museus:
http://www.malba.org.ar/web/
http://www.museos.buenosaires.gov.ar/mam.htm
http://www.mnba.org.ar/
Edifícios
http://personales.ciudad.com.ar/bs-as-arq/Kavanagh.htm
Os links da esquerda levam para outros edifícios porteños
http://www.pbarolo.com.ar/
A web do meu edifício favorito, um dos mais famosos de Baires.
http://quienibaadecirlo.blogspot.com/2007/05/no-s-cunto-tiempo-estuve-fantaseando.html
Esse é do meu blog, e tem algumas fotos que eu tirei da minha Baires, e algumas considerações que vêm ao tema, se alguém lé espanhol

OGC disse...

Percebo o que queres dizer em relação às duas colecções. De facto, embora teoricamente mais próximas, há, na colecção Berardo, obras muito distantes, de entre as quais também considero haver umas muito boas, outras nem tanto...


[obrigado pela participação, Atenea! :)]

Pablo Chicasso disse...

ola. Ate k enfim k volto ao blog! estive a ver os liks (alguns) e descobri tanta tanta coisa k n tive tempo nem coragem para ver tudo. mas ja vi umas coisas interessantes... qd tiver visto mais comento melhor. agora ate estou cansado de ver tanta coisa.

ah, e claro: obrigado

Anónimo disse...

Bem chico, eu vou-me armar em esperto e comentar o teu post, apesar de nunca ter ido ao museu berardo. já fui, isso sim, à Gulbenkian, e devo dizer que é uma exposição que nos deixa num estado de, cmo disseste, "sensibilidade", muito estimulada. concordo com a tua opiniao de que é uma exposição bastante coerente apesar de todas as diferenças temporais que encerra. podia aqui mandar o bitaite e dizer que a tua opiniao em relação à diferença entre as duas exposições terá muito a ver com as também grandes diferenças de sensibilidade entre o senhor Calouste e o senhor que aqui vou chamar apenas de "Joe". os objectivos das exposições ou melhor, do proprio acto de coleccionar sao bastante distintos nos dois homens, sendo que acho que Gulbenkian se tentou ligar às suas peças, e Joe tenta que os outros se liguem a elas. cmo disse, podia mandar o bitaite, mas nao vou mandar (ou ja mandei?). queria desejar-vos tudo de bom e dar-vos os parabens pela organização e manutenção deste blog que, penso, é um ponto fulcral no nosso percurso (agora universitario) artístico. abraços e beijos para todos e em especial para ti