Álvaro Siza Vieira "Já me interroguei muitas vezes sobre o porquê de ter escolhido a profissão de arquitecto"
Agostinho Santos:
Das suas mãos saíram projectos que hoje são autênticos "tratados de arquitectura" elogiados e respeitados em todo o Mundo. Ganhou os maiores prémios que há para conquistar e hoje, ao cabo de mais de 50 anos de actividade, SIza Vieira diz não estar arrependido de ter seguido a profissão que, confessa, o faz aproximar, umas vezes do céu, outras do inferno. Mas nunca largou a paixão do desenho e da escultura.
Álvaro Siza Vieira é considerado um dos maiores nomes da arquitectura contemporânea. Pelo mundo inteiro, do Brasil à Coreia, do Japão a França, de Itália a Portugal, naturalmente, existem obras com a sua assinatura e muitas delas são protagonistas de verdadeiras aulas de arquitectura. Em entrevista ao JN, Siza Vieira fala do primeiro projecto que concebeu, (tinha 21 anos e ainda sem curso concluído) e da paixão pelo desenho e pela escultura. Revela que, se não fosse a influência e a pressão da família, teria sido escultor, no entanto, hoje, para desanuviar, dá o gosto ao dedo e desenha o que as emoções e os sonhos lhe ditam. Também esculpe e está neste momento a preparar um conjunto de três peças para expor em Itália. Acha que a Europa está a mostrar sintomas de envelhecimento urbanístico e que a imagem do Porto de hoje é bem diferente da que deu origem aquando a sua classificação de Património Mundial da Humanidade. Considera mesmo que a baixa portuense está em ruínas e que a anunciada recuperação do centro histórico não está funcionar e só tem contribuído para a descaracterização da cidade.
JN A opção pela arquitectura como é que surge na sua vida?
Álvaro Siza Vieira O que realmente pretendia era ser escultor, mas nessa altura a ideia incomodava as famílias, havia aquele pensamento que Belas-Artes implicava má vida, vida boémia, má alimentação, copos e por aí fora. A família, principalmente o meu pai, avisou-me que seria uma decisão arriscada, mas, apesar disso, consegui entrar na Escola de Belas-Artes, só que fui para a arquitectura. Confesso que gostei.
Já alguma vez se arrependeu de ser arquitecto?
Não, mas já me interroguei muitas vezes sobre o porquê de a ter escolhido. A minha profissão é uma espécie de céu e inferno, ou seja, o arquitecto procura a perfeição e a qualidade, mas para isso são necessários meios e às vezes os empreendedores não facilitam. O grande problema é saber se o promotor, o empreendedor da obra quer fazer bem, se não "esgana" o orçamento e nos dá tempo suficiente para conceber um bom projecto. Se assim acontecer, a profissão é um prazer, se encontramos pela frente um empreendedor que se está a marimbar para a qualidade do projecto, então a actividade pode ser infernal, um autêntico inferno.
Já experimentou o inferno?
Em algumas situações já, mas também já recusei muitos outros que possivelmente iriam dar ao inferno. Felizmente também na arquitectura há o outro lado da medalha. Por exemplo, estou neste momento prestes a concluir um projecto, a Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, Brasil, que tem corrido muito bem e assumo que é uma jóia rara. Está perfeitamente enquadrada no ambiente e parece que todos estão a gostar. A solicitação foi fazer um bom edifício, dando-me todas as condições para o fazer, o que às vezes nem sempre acontece em Portugal.
Em Portugal, tem o Museu de Serralves. Não correu bem?
Serralves é uma excepção, é na verdade, um caso raro no nosso país. Em Serralves houve por trás um grupo de pessoas que pretendiam que se fizesse um projecto bem executado. Mesmo assim ainda tive de fazer quatro estudos e só depois é que se passou para o projecto de execução.
Mas porquê? Não gostaram dos anteriores?
Não foi isso, é que com algumas mudanças de Governo e sobretudo de ministros da Cultura surgiram programas novos e mudavam algumas ideias para o projecto. Uns achavam que devia constar isto, outros achavam que deveria ser aquilo, enfim...
Chegou a ponderar abandonar o projecto de Serralves?
Não, isso não, porque não chegou a esse ponto, até porque considerei sempre aliciante a ideia de fazer um Museu de Arte Contemporânea, no Porto.
É o seu projecto mais importante? Em Portugal, pelo menos?
É um dos trabalhos mais importantes na minha carreira, mas não sei muito bem medir essas coisas. Sei lá, as piscinas de Leça, por exemplo, também têm sido muito elogiadas. Acho que o mais importante foi o primeiro projecto que concebi.
Qual foi?
Quatro casas em Matosinhos que projectei com 21 anos, ainda nem sequer tinha terminado o curso e não as pude sequer assinar. Mas essas casas foram-me muito úteis, sobretudo para me habituar à ideia que não se pode agradar a todos. Logo ali houve quem dissesse que as habitações eram uma vergonha, que tinham portas estreitas, que os caixões, se uma pessoa morresse, não podiam sair. Eu sei lá... hoje ainda lá estão.
Há por aí quem diga que o arquitecto Siza faz edifícios muito interessantes do ponto de visto estético, a seu gosto, mas que não são funcionais. O que acha?
Não sou a melhor pessoa para julgar em causa própria. Tenho centenas de projectos que estão a funcionar em pleno há vários anos. Tenho sempre a preocupação de, no momento da concepção e em todas as fases posteriores, ter sempre em conta a funcionalidade e o bem estar das pessoas que irão usufruir a obra. Entendo, sempre entendi, que o serviço da arquitectura é a razão de ser da arquitectura.
A sua equipa de colaboradores é extensa, mas também se sabe que o seu nome aparece em muitos e muitos projectos, no país e no estrangeiro. Quando lhe entregam um projecto para executar é o arquitecto Siza que o faz ou limita-se a assinar?
A ideia base do projecto é minha e faço o acompanhamento até ao mais ínfimo pormenor. É evidente que neste caso, como noutros, é muito útil a convergência de saberes. Mas todos os projectos que saem do meu gabinete estão sob a minha coordenação. Disso pode ter a certeza...
Como nasce um projecto da autoria do arquitecto Siza Vieira?
Começa no espírito do cliente, mas às vezes não gosto. Outros, começam por dizer "o senhor arquitecto tem toda a liberdade para fazer como quiser". E aí também não gosto.
Não gosta que lhe digam isso? Então, não quer ter liberdade para criar sem barreiras, sem ideias pré-concebidas?
Não, não quero e sabe porquê? Porque se tivesse toda a liberdade, fazia mas é a minha casa e não a do cliente. Acho que é importante conceber o projecto sempre em diálogo com o cliente, seja ele particular ou oficial.
Mas como nasce um projecto?
Nasce depois de falar com o empreendedor, saber bem o que quer e depois a cabeça começa logo a funcionar. Faço os primeiros esquissos em casa ou no ateliê, no restaurante, no café, onde calha. Quase sempre num bloco, mas também já tenho feito nos guardanapos ou nos maços de tabaco. Depois, quando já tenho os esquissos, peço aos meus colaboradores para fazerem as maquetas, porque necessito de ter contacto com os volumes. Mas, repare, para nascer a ideia é necessário apanhar a ponta da meada e ir desenvolvendo o diálogo com o empreendedor. É muito trabalho de cozedura e paciência, porque as ideias não caem do céu.
E como surgem os seus desenhos artísticos?Já fez exposições de desenho e até de escultura. Porque cria a esse nível?
Crio e desenho, sempre desenhei, porque estava ligado à tal ideia de ser escultor e, como se sabe, o desenho é muito importante na escultura. Mas tenho necessidade de desenhar, acho que me desinibe e descontrai. Faço desenhos à noite, no silêncio da casa, mas também o faço durante aquelas reuniões chatas de trabalho. O desenho é importante existencialmente, sempre desenhei e nunca pensei deixar de desenhar.
E quais os temas preferidos?
Corpos de homens e mulheres, mas mais mulheres, porque de facto o corpo feminino é fabuloso, dá um bom modelo. Desenho também muito em viagens, o que vejo e observo por este mundo fora...
Qual é o seu próximo projecto a nível artístico?
Neste momento estou a trabalhar na concepção de três esculturas de grandes dimensões para uma exposição de arquitectura em Itália, em Junho. Já fiz as maquetas agora vão passar à pedra.
Já pensou dedicar-se só ao desenho ou à escultura?
Já, já tenho dito isso várias vezes. É uma tentação frequente, sobretudo quando surgem para aí algumas polémicas com os meus projectos. Dou comigo a pensar, vou mas é deixar isto (leia-se arquitectura), mas depois fico apenas pela intenção.
Pretende acabar a vida como arquitecto?
Sim, até porque a arquitectura é uma aprendizagem. Gostaria de continuar, apesar de agora com os meus 74 anos dar comigo a pensar e a hesitar se valerá a pena aceitar mais projectos de longa execução. Penso logo será que terei tempo para ver isto cá fora? Mas, lá vou aceitando, enquanto tiver forças e não estiver xexé. Se assim for, gostaria de continuar entre os estiradores e os projectos. Vamos lá a ver se consigo, vamos lá a ver.!...
"Descaracterização do Centro Histórico do Porto está à vista"
Como está o Porto na área urbanística?
O centro da cidade está em ruínas, as casas estão destelhadas. Fala-se muito na recuperação do centro histórico, mas não vejo forma, porque os conceitos adoptados não são os mais adequados. Acho que a recuperação não está na direcção certa. Estão a descaracterizar a cidade em vez de a recuperar, utiliza-se mesmo, em alguns casos, caixilhos de plástico em vez de madeira, veja lá!... Creio que o Porto de hoje está muito distante do Porto da altura em que foi classificado de Património Mundial da Humanidade.
E de quem é a culpa?
A culpa é solteira, mas a Câmara do Porto é a grande responsável, mas não é a única. O que se está a fazer é fragmentário e não está concentrado no carácter da qualidade.
Fazia de forma diferente?
Se tivesse essa responsabilidade faria um projecto que não descaracterizasse a cidade e não permitisse a fragmatenção, como, aliás, fiz na recuperação do Chiado, em Lisboa.
Mas é autor do projecto de reconversão da Avenida dos Aliados, que muitos contestam e dizem que descaracteriza a cidade. O que acha?
Das suas mãos saíram projectos que hoje são autênticos "tratados de arquitectura" elogiados e respeitados em todo o Mundo. Ganhou os maiores prémios que há para conquistar e hoje, ao cabo de mais de 50 anos de actividade, SIza Vieira diz não estar arrependido de ter seguido a profissão que, confessa, o faz aproximar, umas vezes do céu, outras do inferno. Mas nunca largou a paixão do desenho e da escultura.
Álvaro Siza Vieira é considerado um dos maiores nomes da arquitectura contemporânea. Pelo mundo inteiro, do Brasil à Coreia, do Japão a França, de Itália a Portugal, naturalmente, existem obras com a sua assinatura e muitas delas são protagonistas de verdadeiras aulas de arquitectura. Em entrevista ao JN, Siza Vieira fala do primeiro projecto que concebeu, (tinha 21 anos e ainda sem curso concluído) e da paixão pelo desenho e pela escultura. Revela que, se não fosse a influência e a pressão da família, teria sido escultor, no entanto, hoje, para desanuviar, dá o gosto ao dedo e desenha o que as emoções e os sonhos lhe ditam. Também esculpe e está neste momento a preparar um conjunto de três peças para expor em Itália. Acha que a Europa está a mostrar sintomas de envelhecimento urbanístico e que a imagem do Porto de hoje é bem diferente da que deu origem aquando a sua classificação de Património Mundial da Humanidade. Considera mesmo que a baixa portuense está em ruínas e que a anunciada recuperação do centro histórico não está funcionar e só tem contribuído para a descaracterização da cidade.
JN A opção pela arquitectura como é que surge na sua vida?
Álvaro Siza Vieira O que realmente pretendia era ser escultor, mas nessa altura a ideia incomodava as famílias, havia aquele pensamento que Belas-Artes implicava má vida, vida boémia, má alimentação, copos e por aí fora. A família, principalmente o meu pai, avisou-me que seria uma decisão arriscada, mas, apesar disso, consegui entrar na Escola de Belas-Artes, só que fui para a arquitectura. Confesso que gostei.
Já alguma vez se arrependeu de ser arquitecto?
Não, mas já me interroguei muitas vezes sobre o porquê de a ter escolhido. A minha profissão é uma espécie de céu e inferno, ou seja, o arquitecto procura a perfeição e a qualidade, mas para isso são necessários meios e às vezes os empreendedores não facilitam. O grande problema é saber se o promotor, o empreendedor da obra quer fazer bem, se não "esgana" o orçamento e nos dá tempo suficiente para conceber um bom projecto. Se assim acontecer, a profissão é um prazer, se encontramos pela frente um empreendedor que se está a marimbar para a qualidade do projecto, então a actividade pode ser infernal, um autêntico inferno.
Já experimentou o inferno?
Em algumas situações já, mas também já recusei muitos outros que possivelmente iriam dar ao inferno. Felizmente também na arquitectura há o outro lado da medalha. Por exemplo, estou neste momento prestes a concluir um projecto, a Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, Brasil, que tem corrido muito bem e assumo que é uma jóia rara. Está perfeitamente enquadrada no ambiente e parece que todos estão a gostar. A solicitação foi fazer um bom edifício, dando-me todas as condições para o fazer, o que às vezes nem sempre acontece em Portugal.
Em Portugal, tem o Museu de Serralves. Não correu bem?
Serralves é uma excepção, é na verdade, um caso raro no nosso país. Em Serralves houve por trás um grupo de pessoas que pretendiam que se fizesse um projecto bem executado. Mesmo assim ainda tive de fazer quatro estudos e só depois é que se passou para o projecto de execução.
Mas porquê? Não gostaram dos anteriores?
Não foi isso, é que com algumas mudanças de Governo e sobretudo de ministros da Cultura surgiram programas novos e mudavam algumas ideias para o projecto. Uns achavam que devia constar isto, outros achavam que deveria ser aquilo, enfim...
Chegou a ponderar abandonar o projecto de Serralves?
Não, isso não, porque não chegou a esse ponto, até porque considerei sempre aliciante a ideia de fazer um Museu de Arte Contemporânea, no Porto.
É o seu projecto mais importante? Em Portugal, pelo menos?
É um dos trabalhos mais importantes na minha carreira, mas não sei muito bem medir essas coisas. Sei lá, as piscinas de Leça, por exemplo, também têm sido muito elogiadas. Acho que o mais importante foi o primeiro projecto que concebi.
Qual foi?
Quatro casas em Matosinhos que projectei com 21 anos, ainda nem sequer tinha terminado o curso e não as pude sequer assinar. Mas essas casas foram-me muito úteis, sobretudo para me habituar à ideia que não se pode agradar a todos. Logo ali houve quem dissesse que as habitações eram uma vergonha, que tinham portas estreitas, que os caixões, se uma pessoa morresse, não podiam sair. Eu sei lá... hoje ainda lá estão.
Há por aí quem diga que o arquitecto Siza faz edifícios muito interessantes do ponto de visto estético, a seu gosto, mas que não são funcionais. O que acha?
Não sou a melhor pessoa para julgar em causa própria. Tenho centenas de projectos que estão a funcionar em pleno há vários anos. Tenho sempre a preocupação de, no momento da concepção e em todas as fases posteriores, ter sempre em conta a funcionalidade e o bem estar das pessoas que irão usufruir a obra. Entendo, sempre entendi, que o serviço da arquitectura é a razão de ser da arquitectura.
A sua equipa de colaboradores é extensa, mas também se sabe que o seu nome aparece em muitos e muitos projectos, no país e no estrangeiro. Quando lhe entregam um projecto para executar é o arquitecto Siza que o faz ou limita-se a assinar?
A ideia base do projecto é minha e faço o acompanhamento até ao mais ínfimo pormenor. É evidente que neste caso, como noutros, é muito útil a convergência de saberes. Mas todos os projectos que saem do meu gabinete estão sob a minha coordenação. Disso pode ter a certeza...
Como nasce um projecto da autoria do arquitecto Siza Vieira?
Começa no espírito do cliente, mas às vezes não gosto. Outros, começam por dizer "o senhor arquitecto tem toda a liberdade para fazer como quiser". E aí também não gosto.
Não gosta que lhe digam isso? Então, não quer ter liberdade para criar sem barreiras, sem ideias pré-concebidas?
Não, não quero e sabe porquê? Porque se tivesse toda a liberdade, fazia mas é a minha casa e não a do cliente. Acho que é importante conceber o projecto sempre em diálogo com o cliente, seja ele particular ou oficial.
Mas como nasce um projecto?
Nasce depois de falar com o empreendedor, saber bem o que quer e depois a cabeça começa logo a funcionar. Faço os primeiros esquissos em casa ou no ateliê, no restaurante, no café, onde calha. Quase sempre num bloco, mas também já tenho feito nos guardanapos ou nos maços de tabaco. Depois, quando já tenho os esquissos, peço aos meus colaboradores para fazerem as maquetas, porque necessito de ter contacto com os volumes. Mas, repare, para nascer a ideia é necessário apanhar a ponta da meada e ir desenvolvendo o diálogo com o empreendedor. É muito trabalho de cozedura e paciência, porque as ideias não caem do céu.
E como surgem os seus desenhos artísticos?Já fez exposições de desenho e até de escultura. Porque cria a esse nível?
Crio e desenho, sempre desenhei, porque estava ligado à tal ideia de ser escultor e, como se sabe, o desenho é muito importante na escultura. Mas tenho necessidade de desenhar, acho que me desinibe e descontrai. Faço desenhos à noite, no silêncio da casa, mas também o faço durante aquelas reuniões chatas de trabalho. O desenho é importante existencialmente, sempre desenhei e nunca pensei deixar de desenhar.
E quais os temas preferidos?
Corpos de homens e mulheres, mas mais mulheres, porque de facto o corpo feminino é fabuloso, dá um bom modelo. Desenho também muito em viagens, o que vejo e observo por este mundo fora...
Qual é o seu próximo projecto a nível artístico?
Neste momento estou a trabalhar na concepção de três esculturas de grandes dimensões para uma exposição de arquitectura em Itália, em Junho. Já fiz as maquetas agora vão passar à pedra.
Já pensou dedicar-se só ao desenho ou à escultura?
Já, já tenho dito isso várias vezes. É uma tentação frequente, sobretudo quando surgem para aí algumas polémicas com os meus projectos. Dou comigo a pensar, vou mas é deixar isto (leia-se arquitectura), mas depois fico apenas pela intenção.
Pretende acabar a vida como arquitecto?
Sim, até porque a arquitectura é uma aprendizagem. Gostaria de continuar, apesar de agora com os meus 74 anos dar comigo a pensar e a hesitar se valerá a pena aceitar mais projectos de longa execução. Penso logo será que terei tempo para ver isto cá fora? Mas, lá vou aceitando, enquanto tiver forças e não estiver xexé. Se assim for, gostaria de continuar entre os estiradores e os projectos. Vamos lá a ver se consigo, vamos lá a ver.!...
"Descaracterização do Centro Histórico do Porto está à vista"
Como está o Porto na área urbanística?
O centro da cidade está em ruínas, as casas estão destelhadas. Fala-se muito na recuperação do centro histórico, mas não vejo forma, porque os conceitos adoptados não são os mais adequados. Acho que a recuperação não está na direcção certa. Estão a descaracterizar a cidade em vez de a recuperar, utiliza-se mesmo, em alguns casos, caixilhos de plástico em vez de madeira, veja lá!... Creio que o Porto de hoje está muito distante do Porto da altura em que foi classificado de Património Mundial da Humanidade.
E de quem é a culpa?
A culpa é solteira, mas a Câmara do Porto é a grande responsável, mas não é a única. O que se está a fazer é fragmentário e não está concentrado no carácter da qualidade.
Fazia de forma diferente?
Se tivesse essa responsabilidade faria um projecto que não descaracterizasse a cidade e não permitisse a fragmatenção, como, aliás, fiz na recuperação do Chiado, em Lisboa.
Mas é autor do projecto de reconversão da Avenida dos Aliados, que muitos contestam e dizem que descaracteriza a cidade. O que acha?
O projecto da Avenida que fiz, em conjunto com Souto Moura, causou polémica porque coincidiu com as eleições, o combate político. O projecto foi apresentado e amplamente discutido na Câmara e não levantou contestação, só houve quando ficou concluído. Foi apanhado, como já disse, bem no meio das lutas políticas. E aí, tenho que louvar a grande coragem do presidente Rui Rio que insistiu no projecto e não cedeu.
A chamada sociedade civil fez um abaixo-assinado e promoveu uma manifestação
Sim, a manifestação tinha 29 pessoas, segundo noticiaram os jornais. Depois, a contestação surgiu pelo desaparecimento dos canteiros.Ora, em devido tempo, apresentamos o projecto publicamente e explicamos a quem quis ouvir que não se justificava ter uns canteirinhos na principal "sala de visitas" da cidade. Quando surgia uma manifestação ou ajuntamento, como, por exemplo, quando o FCPorto ganha e agora já tem acontecido muitas vezes, os canteiros, as flores ficavam imediatamente destruídos. Apresentamos, como exemplo, o que acontece nas maiores praças europeias onde os canteiros foram banidos. Não podemos esquecer que as plantas vieram para a Avenida dos Aliados, nos anos 40, num tempo totalmente diferente do de hoje.
Considera injusta a polémica? Disseram até que a praça foi vítima de "sizentismo". O que acha da forma como foi adjectivada?
Acho injusta, mas quem sou eu para criticar quem não gostou. Continuo a achar que o projecto está digno e concebido, tendo em atenção as necessidades e as razões históricas do local.
E quanto à expressão "sizentismo"?
A chamada sociedade civil fez um abaixo-assinado e promoveu uma manifestação
Sim, a manifestação tinha 29 pessoas, segundo noticiaram os jornais. Depois, a contestação surgiu pelo desaparecimento dos canteiros.Ora, em devido tempo, apresentamos o projecto publicamente e explicamos a quem quis ouvir que não se justificava ter uns canteirinhos na principal "sala de visitas" da cidade. Quando surgia uma manifestação ou ajuntamento, como, por exemplo, quando o FCPorto ganha e agora já tem acontecido muitas vezes, os canteiros, as flores ficavam imediatamente destruídos. Apresentamos, como exemplo, o que acontece nas maiores praças europeias onde os canteiros foram banidos. Não podemos esquecer que as plantas vieram para a Avenida dos Aliados, nos anos 40, num tempo totalmente diferente do de hoje.
Considera injusta a polémica? Disseram até que a praça foi vítima de "sizentismo". O que acha da forma como foi adjectivada?
Acho injusta, mas quem sou eu para criticar quem não gostou. Continuo a achar que o projecto está digno e concebido, tendo em atenção as necessidades e as razões históricas do local.
E quanto à expressão "sizentismo"?
Acho piada. Mas não podemos esquecer que é um trocadilho e o trocadilho é a forma mais pobre de fazer graça.
Agostinho Santos in JN
05/05/2008
3 comentários:
Ok, não li (i'll let you know when i do) mas percebi o que querias dizer. =P
senhores leitores! (e senhoras claro!) esta é uma "pequena" entrevista que achei interessante colocar aqui, pois nela se abordam algumas das temáticas já faladas neste blog como é o caso das últimas intervenções realizadas no centro histórico do Porto, interessante, também, é compreender a visão que o Siza tem da sua própria arquitectura... vá, leiam lá que só vos faz bem! :)
Afinal lê-se bem! :) É só uma questão de começar, porque não é maçador.
Parece-me bem. lol.
Gostei, gostei, mas não tenho muito mais a acrescentar. Apenas que vale a pena ler!
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