31 janeiro 2009

Topografias da Memória


Inserida na Pós-graduação em Gestão de Actividades Artísticas, Culturais e Educativas da Escola Superior de Educação Paula Frassinetti, realizou-se hoje uma conferência com Mónica Oliveira, Fernando Matos Rodrigues e Joana Cavalcanti.

Escultora de formação, para além de professora de Desenho na Escola Superior Artística do Porto (entre outras tantas coisas) e auto-intitulada "coleccionadora de experiências", Mónica Oliveira mostrou e comentou alguns dos seus trabalhos de escultura, num ambiente descontraído, de início - literalmente - de café.

Devo dizer que foi muito enriquecedor para mim, enquanto estudante de Arquitectura, pois permitiu abrir os horizontes no que ao processo criativo diz respeito (e sim, eu sou dos freaks que consideram Arquitectura mais uma forma de Arte do que apenas um exercício da técnica). E penso que isso não se deveu apenas à inerente e indiscutível presença do conceito de habitar, de casa. Foi mais do que isso. Nas palavras da própria, "é preciso trabalhar para que haja inspiração. Cada vez acredito menos num anjo que desce...", frases que contêm toda uma atitude de permanente ampliação e enriquecimento de vocabulário, quer conceptual quer formal.

E se a isto acrescentarmos a participação do antropólogo Fernando Matos Rodrigues, dono de uma postura descomprometida mas sempre crítica e provocadora, aquilo a que assistimos foi toda uma nova abordagem acerca daquilo que tanto nos, "arquitectos", diz respeito: (como já referi) o habitar, o conceito de casa.
"A casa que nós temos é não termos casa nenhuma".
Para os arquitectos-técnicos talvez pareça bastante irrelevante. Para os arquitectos-artistas, talvez nem tanto. Digo eu. Mas mesmo para os primeiros, há aplicações bastante pragmáticas a retirar de toda esta teoria. A ordem como apelo à desordem (e já agora o inverso). O habitar que não implica residência. Etc..

Depois foi ainda vez de Joana Cavalcanti, doutorada em Teoria da Literatura (juro que até pesquisar achei que ela era de um mundo algo mais próximo das artes plásticas) intervir. Desde a dicotomia liberdade utópica/prisão existêncial até algumas considerações sobre as relações de afinidade entre artistas, crianças e loucos - já agora: a criança vai ao "era uma vez..." e volta; o louco perde a cabeça irreversivelmente; o artista vai ao extremo da loucura mas consegue voltar, para contar como foi), relevou por fim a
enorme mais-valia da Arte: a de gerar e produzir sentido.


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Neste contexto não posso deixar de referir - de novo, mas a expressão é a que melhor ilustra o que quero dizer - a visão monocórdica que tendemos (eu tento - e acho que sou razoavelmente bem sucedido - não tender) a ter da Arquitectura. É certo que a assitência hoje não era muito numerosa. Ainda assim, de Arquitectura éramos apenas três. E acho que o destaque que nos foi dado (a Mónica Oliveira mostrou-se extremamente satisfeita pela presença de estudantes de Arquitectura) revela que não é uma atitude comum, um aluno deste curso interessar-se por outras áreas. E eu concordo. Chateia-me um bocado sempre que ouço "Conferência? Tem alguma coisa a ver com Arquitectura? Não? Então não vou."
A frase não é minha mas é de todos nós: "falta-nos tempo para viver para além da Arquitectura".
Talvez nos falte também vontade.
Não sei se tenho razão, mas para mim chega. Eu tenciono viver para lá da Arquitectura. Porque ela não me chega, não me satisfaz. Preenche-me e realiza-me. Mas sozinha não basta. Arquitectura sim. Arquitectura não. Não para mim.
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"Casa baloiço" l 2006 l Ferro pintado l 163 x 23 x 56,5 cm
"Para além da história" l 2004 l Madeira, resina e fotografia l
92 x 130 x 4,5 cm



7 comentários:

OGC disse...

Gostei mesmo. A Mónica Oliveira é excelente! Confesso que alguns dos trabalhos não me despertaram interesse imediato, mas essa é a sorte de ter a autora presente: perceber o que está ali afinal.

[Ah, e eu não queria que o post soasse a manifesto pessoal de alguma coisa, é simplesmente a minha opinião.]

Anónimo disse...

Eu também tive presente na conferencia e também a achei muito interessante. Esta questao do habitar já tinha sido bastante abordada nas aulas de antropologia e tem posto os meu tico e o meu teco a trabalhar lol. e penso que a escultora Monica Oliveira consegue traduzir muito bem a inquetação que o arquietcto deveria sentir quando projecta, relativamente a esta questão.

Também tou ctg, lando, tb axo que Arquitectura não é só arquietctura. é tudo! tenho vindo a achar cada vez mais que o curso deveria ter um ano lectivo qq só de pesqisa e de enriquecimento da nossa bagagem. acho que assim todo o trabalho que fizessemos depois teria muito mais sentido. Mas já que isto não acontece, tem de partir de nós esta procura de respostas. e esta conferencia foi isso msm!

Muito bom!
***

Voltaire disse...

gostei bastante, tanto da obra (k já tinha visto numa ou outra imagem na aula) como das explicações da autora e da conferência em si (mais k n fosse pelo ambiente descontraido) (até massagens cheguei a ter xD)

achei particular interesse no foco do tema habitar, nesta obra, sem território ou habitantes k pudessemos dizer de reais, esse conceito acaba por suceder a um nível de como direi? de estado de espirito, algo psicológico. um mundo de sentimento, em que a casa se encontra a principio como sendo o nosso mundo, o nosso universo fantasioso, o refugio k utilizamos como destino final e k depois começa a revelar traços de prisão e falso paraíso, restando-nos a fuga.

knto à questão de vivência só para a arq, já n é a 1ª vez k o dizes orlando, e eu concordo ctg, aliás a ambição da esap aquando a sua fundação era o de evitar que a arq se isolasse face às outras formas de expressão artistica, se o conseguiu ou n, já é outra kestão, mas são muitas as razões para que se procure uma coexistência harmonica das artes, mais k n seja pk o arq enkuanto humanista deve ter como interesse toda e kalker obra humana, focar-se em arq sim, só só arq n, sublinho :)


(consegui escrever pouco weeee!!! :D)

Voltaire disse...

(btw, o tico e o teco da marys...são 2 e funcionam por turnos!! xD)

(iii...o sérgio foi desagradáble!! :D)

OGC disse...

AHAHA!!! xD Go Sérgio! Go Sérgio! xD

Anónimo disse...

heyy!!! não obriguem o Tico a ser desagradavel e o Teco a ser completamente estupido, ta???

OGC disse...

http://www.monicaoliveira.net/

Tinha-me esquecido!