02 abril 2009

Terrorismo Poético

Vale mesmo a pena ler! (e desculpem ser em brasileiro, só arranjei assim...)

Terrorismo Poético

Capítulo de "Caos, os Panfletos do Anarquismo Ontológico" (parte um de "Zona Autónoma Temporária"),

de Hakim Bey

ESTRANHAS DANÇAS NOS SAGUÕES de Bancos 24 Horas. Shows pirotécnicos não autorizados. Arte terrestre, trabalhos-telúricos como bizarros artefatos alienígenas espalhados em Parques Nacionais. Arrombe casas mas, ao invés de roubar, deixe objetos Poético-Terroristas. Rapte alguém e faça-o feliz. Escolha alguém aleatoriamente e convença-o de que ele é herdeiro de uma enorme, fantástica e inútil fortuna: digamos 8000 quilômetros quadrados da Antártida, ou um velho elefante de circo, ou um orfanato em Bombaí, ou uma coleção de manuscritos alquímicos. Mais tarde, ele irá dar-se conta de que acreditou por alguns poucos momentos em algo extraordinário, e talvez, como resultado, seja levado a buscar uma forma mais intensa de viver.

Pregue placas comemorativas de latão em locais (públicos ou privados) onde experimentaste uma revelação ou tiveste uma experiência sexual particularmente especial, etc.

Ande nu por aí.

Organize uma greve em sua escola ou local de trabalho, com a justificativa de que não estão sendo satisfeitas suas necessidades de indolência e beleza espiritual.

A Arte do grafitti emprestou alguma graça a metrôs horrendos e rígidos monumentos públicos. A arte Poético-Terrorista também pode ser criada para locais públicos: poemas rabiscados em banheiros de tribunais, pequenos fetiches abandonados em parques e restaurantes, arte xerocada distribuída sob limpadores de pára-brisa de carros estacionados, Slogans em Letras Grandes grudados em muros de playgrounds, cartas anônimas enviadas a destinatários aleatórios ou escolhidos (fraude postal), transmissões piratas de rádio, cimento fresco...

A reação da audiência ou o choque estético produzidopelo Terrorismo Poético deve ser pelo menos tão forte quanto a emoção do terror: nojo poderoso, excitação sexual, admiração supersticiosa, inspiração intuitiva repentina, angústia dadaísta - não importa se o Terrorismo Poético é direcionado a uma ou a várias pessoas, não importa se é "assinado" ou anônimo; se ele não muda a vida de alguém (além da do artista), ele falhou.

O Terrorismo Poético é um ato em um Teatro de Crueldade que não tem palco, nem assentos, ingressos ou paredes. Para funcionar, o TP deve ser categoricamente divorciado de todas as estruturas convencionais de consumo de arte (galerias, publicações, mídia). Mesmo as táticas guerrilheiras Situacionistas de teatro de rua já estão muito bem conhecidas e esperadas, atualmente.

Uma requintada sedução levada adiante não apenas pela satisfação mútua, mas também como um ato consciente por uma vida deliberademente mais bela: este pode ser o Terrorismo Poético definitivo. O Terrorista Poético comporta-se como um aproveitador barato cuja meta não é dinheiro, mas MUDANÇA.

Não faça TP para outros artistas, faça-o para pessoas que não perceberão (pelo menos por alguns momentos) que o que acabaste de fazer é arte. Evite categorias artísticas reconhecidas, evite a política, não fique por perto para discutir, não seja sentimental; seja impiedoso, corra riscos, vandalize apenas o que precisa ser desfigurado, faça algo que as crianças lembrarão pelo resto da vida - mas só seja espontâneo quando a Musa do TP tenha te possuído.

Fantasia-te. Deixa um nome falso. Seja lendário. O melhor TP é contra a lei, mas não seja pego. Arte como crime; crime como arte

3 comentários:

Voltaire disse...

terrorismo poético ou um neo-dada? parecem-m ideias um tanto ou pco nada novas adaptadas de alguma forma ao dia de hoje, continuando com a linguagem da subversão e reacção à sociedade...por aí lol, mas se alguém fizesse isto era engraçado :p

OGC disse...

É um bocado nessa base. Há ideias efectivamente interessantes, mas completamente irrealizáveis! Assaltar uma casa e em vez de tirar, pôr coisas! Conceptualmente é brilhante, mas é apenas isso.

Como já tive oportunidade de falar um bocadinho (que as msgs estão caras! xD) com a Carol, eu gosto do nonsense, mas a partir de certo ponto tb me escapa um bocado.
Por exemplo, as cartas aleatórias parecem-me realizáveis e interessantes. Acho que isso pode pôr pessoas a pensar, consoante a pessoa que receber e a forma como se decidir mandar e o que se decidir mandar.

Mas 'Pregue placas comemorativas de latão em locais (públicos ou privados) onde experimentaste uma revelação ou tiveste uma experiência sexual particularmente especial, etc.'... Acho um bocado ridiculo. Acho demasiado gratuito. Eu considero-me bastante adepto destas coisas e tento não ter nenhum tipo de preconceito, mas se encontrasse uma placa destas, não iria ter nenhum dos efeitos que procuro no nonsense.

Ainda assim, acho um documento interessante mas, embora até ler o comentário do Sérgio não tivesse pensado nisso, é um tanto presunçoso reclamar para si um conceito que, embora seja agora dono de novas aplicações, já não é, em si mesmo, novo.

Carolina Búzio disse...

Concordo que tem as suas raízes dadaístas fortes... mas o que é que não tem raízes noutra coisa qualquer, hoje em dia? A arte parece estar sempre a ir buscar à arte a sua inspiração...
e também concordo que algumas das sugestões não são exequíveis... embora outras sejam bastante tentadoras XD