05 maio 2010

Encéfalo [cérebro, cerebelo, tálamo, hipotálamo, et.al.]

A ciência não é o meu prato forte mas a revista sábado da última semana publicou um artigo com alguns dados que podem ser interessantes para as conversas que temos vindo a ter:

"É mais forte do que nós: mal se torna familiar com uma tarefa, o cérebro liga o chamado piloto-automático. Às vezes ainda conseguimos perceber que estamos a divagar, mas durante 13% do nosso dia estamos mesmo completamente alheados: os cientistas chamam-lhe zoning out. E de que se ocupa a nossa mente durante esses períodos? De nós. Pensamos (mesmo que sem dar por isso) em questões relacionadas com o "Eu", com o nosso futuro. Ou seja, estar alheado não é o mesmo que não pensar em nada. Pelo contrário. Desligamo-nos de objectivos imediatos e de curto prazo e passamos a ocupar-nos de objectivos distantes mas não menos importantes."

[eu diria muito mais importantes. se for realmente só 13% do tempo é uma pena!]

"Numa investigação para perceber por que motivo o nosso competente e capaz-das-mais-complicadas-tarefas cérebro falha nas mais simples acções, cientistas do Departamento de Biologia e Psicologia Médica da universidade de Bergen, na Noruega, descobriram um padrão: mal o cérebro se aborrece (e isto acontece assim que percebe que a tarefa não lhe requer grande estímulo) começa a desligar alguns dos sistemas de processamento, como o da atenção, activa o piloto-automático, começa a poupar energia e desata a sonhar acordado."

[é uma pena mas tenho frequentemente a sensação de que a maior parte dos nossos professores não tem sequer uma noção empírica disto]

"Sempre que nos lembramos de alguma coisa é como se a tirássemos de uma gaveta onde estava arrumada no nosso cérebro e depois voltássemos a guardá-la. Mas quando a guardamos, dificilmente ela fica como estava: «de cada vez que acedemos a uma informação, essa informação é modificada, o que quer dizer que provavelmente as nossas memórias de infância não existem, pelo menos da maneira como nos recordamos delas, porque de cada vez que nos recordamos, podemos, potencialmente, modificá-las, acrescentando ou retirando informações, sensações...»"

"As recentes descobertas no campo da memória deitaram abaixo um mito clássico: o de que as memórias antigas estão estáveis, sólidas, armazenadas para sempre e que as memórias recentes são instáveis, frágeis e, portanto, muito mais susceptíveis de se perderem. Não é assim. De cada vez que nos lembramos de alguma coisa, temos de voltar a consolidar essa memória. E nesse processo ela volta a ficar instável, portanto pode não só alterar-se, como perder-se ou apagar-se."

[não era propriamente com este sentido científico e objectivo que eu estava a falar mas este argumento serve-me para a defesa da ideia que apresentei como crítica ao filme "La Maison en Petits Cubes" - a ideia de que o passado não é estável e de que é interactivo como o presente.]

7 comentários:

j. disse...

o início: http://www.youtube.com/watch?v=OL4iJDS6m5s
[recordação/imaginação]

Quando temos falhas na nossa memória, o nosso cérebro tende a preenchê-las com memórias inventadas. Essas memórias/imagens novas vêm de novas vivências. Por isso, sim, concordo contigo: o passado é dinâmico e recria-se através do presente e de outros passados.

a partir do minuto 9e42 de:
http://www.youtube.com/watch?v=jeHOH6PSbfM
até ao minuto 1 de:
http://www.youtube.com/watch?v=fYjakyH7ewc

Já agora, aconselho seriamente o filme [mas em versão original, com legendas]. É muito interessante a muitos níveis, também sobre este, da memória.

Pablo Chicasso disse...

Acabei por ver o filme todo. gostei bastante mas há qualquer coisa de estranho em ser um documentário em animação.

j. disse...

Mais que estranho, extra[-]ordinário!

Tanto, que a nomeação que teve nos Óscares não foi nem para Melhor Animação, nem para Melhor Documentário. Foi, sim, para Melhor Filme Estrangeiro.

Carolina Búzio disse...

Obrigada pelo post, gostei mesmo de ler.
E sim, também aconselho a versão original com legendas, esta perdeu um bocado da autenticidade... porque a ideia é precisamente ter aquela mistura da realidade com a ficção, do documentário com a animação, e ao dobrarem perde um pouco dessa realidade.
Joana, sabias que ele está (estará?) a fazer agora outro filme? já não é sobre a vida dele, será sobre um livro que o marcou... bah, não me lembro do nome (falando em memória...)

OGC disse...

Uh, gostei.

(ie, do post, ainda não vi o filme, porque parecendo que não devia estar a trabalhar para projecto. lol. é também por esse motivo - e por não ter estado cá! muaahahahahaha - que ainda não vi as duas últimas segundas-feiras azuis nem comentei o post da casa. Mas não me esqueci de nada.)

Nunca tinha pensado nisso. É bastante mais interessante assim, na verdade. Gosto quando as coisas não são "assim e pronto". =P

Voltaire disse...

muito muito interessante! adoro qualquer tema que tenha a ver com cérebro, seja memória, o inconsciente, alterações neurológicas, doenças mentais e fisicas do cérebro, por aí fora...aliás, julgo que qualquer um de nós gosta destes temas dando-lhes mais ou menos relevância, qualquer tentativa de explicação do nosso funcionamento é interessante. :)

quanto ao filme, ainda não o vi e não me queria limitar às cenas destacadas pela menina bolonhesa, assim que tiver um tempinho vejo ;)

j. disse...

Carolina, não sabia!
Fico à espera!