"É mais forte do que nós: mal se torna familiar com uma tarefa, o cérebro liga o chamado piloto-automático. Às vezes ainda conseguimos perceber que estamos a divagar, mas durante 13% do nosso dia estamos mesmo completamente alheados: os cientistas chamam-lhe zoning out. E de que se ocupa a nossa mente durante esses períodos? De nós. Pensamos (mesmo que sem dar por isso) em questões relacionadas com o "Eu", com o nosso futuro. Ou seja, estar alheado não é o mesmo que não pensar em nada. Pelo contrário. Desligamo-nos de objectivos imediatos e de curto prazo e passamos a ocupar-nos de objectivos distantes mas não menos importantes."
[eu diria muito mais importantes. se for realmente só 13% do tempo é uma pena!]
"Numa investigação para perceber por que motivo o nosso competente e capaz-das-mais-complicadas-tarefas cérebro falha nas mais simples acções, cientistas do Departamento de Biologia e Psicologia Médica da universidade de Bergen, na Noruega, descobriram um padrão: mal o cérebro se aborrece (e isto acontece assim que percebe que a tarefa não lhe requer grande estímulo) começa a desligar alguns dos sistemas de processamento, como o da atenção, activa o piloto-automático, começa a poupar energia e desata a sonhar acordado."
[é uma pena mas tenho frequentemente a sensação de que a maior parte dos nossos professores não tem sequer uma noção empírica disto]
"Sempre que nos lembramos de alguma coisa é como se a tirássemos de uma gaveta onde estava arrumada no nosso cérebro e depois voltássemos a guardá-la. Mas quando a guardamos, dificilmente ela fica como estava: «de cada vez que acedemos a uma informação, essa informação é modificada, o que quer dizer que provavelmente as nossas memórias de infância não existem, pelo menos da maneira como nos recordamos delas, porque de cada vez que nos recordamos, podemos, potencialmente, modificá-las, acrescentando ou retirando informações, sensações...»"
"As recentes descobertas no campo da memória deitaram abaixo um mito clássico: o de que as memórias antigas estão estáveis, sólidas, armazenadas para sempre e que as memórias recentes são instáveis, frágeis e, portanto, muito mais susceptíveis de se perderem. Não é assim. De cada vez que nos lembramos de alguma coisa, temos de voltar a consolidar essa memória. E nesse processo ela volta a ficar instável, portanto pode não só alterar-se, como perder-se ou apagar-se."
[não era propriamente com este sentido científico e objectivo que eu estava a falar mas este argumento serve-me para a defesa da ideia que apresentei como crítica ao filme "La Maison en Petits Cubes" - a ideia de que o passado não é estável e de que é interactivo como o presente.]
7 comentários:
o início: http://www.youtube.com/watch?v=OL4iJDS6m5s
[recordação/imaginação]
Quando temos falhas na nossa memória, o nosso cérebro tende a preenchê-las com memórias inventadas. Essas memórias/imagens novas vêm de novas vivências. Por isso, sim, concordo contigo: o passado é dinâmico e recria-se através do presente e de outros passados.
a partir do minuto 9e42 de:
http://www.youtube.com/watch?v=jeHOH6PSbfM
até ao minuto 1 de:
http://www.youtube.com/watch?v=fYjakyH7ewc
Já agora, aconselho seriamente o filme [mas em versão original, com legendas]. É muito interessante a muitos níveis, também sobre este, da memória.
Acabei por ver o filme todo. gostei bastante mas há qualquer coisa de estranho em ser um documentário em animação.
Mais que estranho, extra[-]ordinário!
Tanto, que a nomeação que teve nos Óscares não foi nem para Melhor Animação, nem para Melhor Documentário. Foi, sim, para Melhor Filme Estrangeiro.
Obrigada pelo post, gostei mesmo de ler.
E sim, também aconselho a versão original com legendas, esta perdeu um bocado da autenticidade... porque a ideia é precisamente ter aquela mistura da realidade com a ficção, do documentário com a animação, e ao dobrarem perde um pouco dessa realidade.
Joana, sabias que ele está (estará?) a fazer agora outro filme? já não é sobre a vida dele, será sobre um livro que o marcou... bah, não me lembro do nome (falando em memória...)
Uh, gostei.
(ie, do post, ainda não vi o filme, porque parecendo que não devia estar a trabalhar para projecto. lol. é também por esse motivo - e por não ter estado cá! muaahahahahaha - que ainda não vi as duas últimas segundas-feiras azuis nem comentei o post da casa. Mas não me esqueci de nada.)
Nunca tinha pensado nisso. É bastante mais interessante assim, na verdade. Gosto quando as coisas não são "assim e pronto". =P
muito muito interessante! adoro qualquer tema que tenha a ver com cérebro, seja memória, o inconsciente, alterações neurológicas, doenças mentais e fisicas do cérebro, por aí fora...aliás, julgo que qualquer um de nós gosta destes temas dando-lhes mais ou menos relevância, qualquer tentativa de explicação do nosso funcionamento é interessante. :)
quanto ao filme, ainda não o vi e não me queria limitar às cenas destacadas pela menina bolonhesa, assim que tiver um tempinho vejo ;)
Carolina, não sabia!
Fico à espera!
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